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"Belicismo dos EUA contribuiu para atentados"

Por Agencia Estado
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O professor de Psicologia da Universidade do Texas em Arlington, Daniel Levine, afirmou, nesta segunda-feira que a mentalidade belicista propagada pelos Estados Unidos no mundo pode ter contribuído para o ataque terrorista sofrido pelo país no último dia 11. "Com a inversão de valores no mundo, com as pessoas correndo atrás de dinheiro e interesses pessoais e perdendo a noção de espiritualidade, damos margem para mentalidades destrutivas. E a mentalidade bélica dos EUA ajudou muito nisso", disse. Ele fez a declaração em São Paulo, ao participar do congresso internacional "Valores Universais e o Futuro da Sociedade", promovido pela International Sociological Association (ISA), em conjunto com a Associação Palas Athena, PUC-SP, SESC-SP e UNESCO. O evento reúne, até quarta-feira, 100 palestrantes de 19 países, entre cientistas, filósofos, acadêmicos e pesquisadores. Levine foi o único palestrante norte-americano que conseguiu chegar para o evento no Brasil. Apesar da tragédia americana, ele não acredita que uma retaliação militar - como planeja o presidente George W. Bush - seja a estratégia mais correta. "Meu país foi atacado, e eu não derramaria uma lágrima pela morte de Osama Bin Laden (suspeito número um dos americanos), mas questiono a idéia de intervenção militar, pelas baixas civis que causará", disse. De acordo com o professor, o uso de tropas não é a única solução para evitar o derramamento de sangue e propagação do ódio religioso. "Os EUA impõem soluções prontas, de cima para baixo, para os árabes, enquanto o mais correto seria selar parcerias e rever os nossos conceitos universais", declarou. Segundo o professor emérito da Universidade de Campinas (Unicamp), Ubiratan D´Ambrosio, que mediou uma das mesas de discussão pela manhã no congresso, o grande erro dos analistas para explicar o atentado nos EUA é tentar desvincular os conflitos econômicos e políticos dos religiosos. "Hoje o xadrez mundial implica uma visão muito mais ampla do que a econômica, porque a economia está ligada ao sistema de conhecimento, que está ligada ao sistema religioso. O sistema que tenta desvincular a religião da ciência, economia e arte é míope. O grande desafio dos educadores do futuro é perceber que tudo está ligado e que deve ser incorporado à educação", acredita. D´Ambrosio acrescentou que o atual modelo de sociedade é insustentável. "Temos que rever o nosso sistema de produção, de economia, de distribuição de riqueza, porque tem gente produzindo em grandes pedaços do planeta e outros sem ter nem onde morar", diz. Para D´Ambrosio, se este contexto não for modificado, as previsões são catastróficas. "O que aconteceu na semana passada não é uma coisa isolada e foi uma coisa pequena em relação ao que pode vir a acontecer. Não tenha dúvida", salientou. De acordo com o professor, "é muito mais importante entender por que as crianças palestinas comemoraram o ataque do que se preocupar com uma política de retaliação". Ele acredita, no entanto, que os EUA insistirão no revide. "Eles (governo) vão tentar salvar a unidade nacional dando a eles (população americana) a ilusão de que estão ganhando alguma coisa, destruindo o inimigo, por exemplo. O desenvolvimento da nossa civilização, infelizmente, é o olho por olho e o dente por dente", sustenta. Ele reitera a importância de adotar uma postura diferente, de educação e respeito entre os povos e diz que o congresso internacional que se realiza no Brasil é a chance de procurar direções para a sociedade que evitem, rapidamente, o que aconteceu nos EUA. Na visão de D´Ambrosio, os norte-americanos partirão agora para uma política paranóica de segurança. "Eles vão tentar reforçar os alicerces deste edifício que chamam civilização moderna, retirando coisas fundamentais, como a liberdade, a confiança, a alegria. Ficaremos em uma sociedade aparentemente mais segura, mas engaiolada", diz. Também presente ao congresso, o representante da Ordem Sufi (propagadora do misticismo islâmico) no Brasil, Hajji Sheikh Muhammad Ragip, afastou qualquer motivação religiosa para o atentado contra as torres gêmeas do WTC e o prédio do Pentágono. "Com certeza não foi problema de religião, porque o islamismo ensina o amor ao próximo e à vida. Essa questão de terrorismo está relacionada com política e economia, na minha opinião", disse. "Eu poderia arriscar que os EUA erraram nas questões armamentistas e no respeito aos direitos fundamentais", argumentou.

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