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'Bem-vindo à América': a história por trás da capa da revista 'Time'

Publicação americana usou imagem de menina hondurenha de 2 anos fotografada chorando enquanto sua mãe era revistada na fronteira sul dos EUA

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Por Redação
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NOVA YORK - John Moore, fotógrafo vencedor do Prêmio Pulitzer, tem registrado imagens de imigrantes na fronteira entre México e Estados Unidos. Nesta semana, uma de suas fotos se tornou o símbolo mais forte do debate sobre imigração no país. "Essa foi uma difícil para mim. Assim que acabou (a revista dos imigrantes), eles foram colocados numa van", disse o fotógrafo à revista Time, descrevendo sua reação à cena de uma menina hondurenha de dois anos chorando enquanto sua mãe era revistada pelos agentes da Patrulha de Fronteira em McAllen, no Texas. "Tudo o que eu queria era pegá-la. Mas eu não podia", disse Moore.

Para a ONG Anistia Internacional, esta nova política é "digna de tortura", "inadmissível" para a ONU, e também denunciada por líderes religiosos americanos influentes entre o eleitorado republicano Foto: John Moore/Getty Images/AFP

A força da imagem foi tanta que os editores da Time a escolheram para ilustrar a capa de 2 de julho. Uma montagem foi feita com a imagem da menina de 2 anos de frente para o presidente Donald Trump. O resultado foi a cena montada em que uma criança hondurenha chora, em solo americano, enquanto Trump apenas a observa, em pé. Do lado esquerdo, lê-se a frase "Bem-vindo à América", uma referência ao modo como os EUA recebem os imigrantes ilegais - prendendo os adultos e separando os filhos de seus pais, colocando as crianças em jaulas.

Capa da revista Time coloca menina hondurenha de 2 anos e Trump na mesma cena. Montagem referencia a separação de famílias e as mais de 2 mil crianças tiradas de seus pais, mães ou responsáveis em consequência da política de tolerância zero do governo americano. Foto: Time Magazine

A foto foi tirada pouco tempo depois de Trump assinar uma ordem determinando tolerância zero com os imigrantes ilegais pegos em flagrante. O grupo da menina hondurenha era composto, em maioria, por mulheres e crianças. O fotógrafo estava acompanhando os agentes da patrulha de fronteira, escondidos em meio à mata no Estado do Texas. Moore ouviu quando os imigrantes desceram dos barcos e pisaram sobre galhos caídos, em direção a uma estrada de terra que levava à cidade fronteiriça de McAllen.

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Quando o grupo foi abordado, uma mulher chamou a atenção do fotógrafo. Ela estava amamentando a filha sob a luz dos faróis do veículo da Patrulha de Fronteira. Se aproximou e começou a tirar algumas fotos. Em espanhol, ela lhe contou sua história. A filha tinha dois anos. Elas estavam na estrada há um mês e eram de Honduras. Moore perguntou à mulher se poderia acompanhá-la durante o processo de revista, antes que entrasse no carro com a filha e fosse levada pelos agentes. Ela concordou.

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As duas esperavam sua vez na fileira, onde os outros imigrantes tinham sido posicionados. A mãe agachou e tirou os cadarços da filha - os imigrantes perdem todos os seus objetos pessoais, desde fitas de cabelo a dinheiro, alianças e cintos. Ele conta que tudo foi muito rápido quando chegou a vez de a mãe hondurenha passar pela revista. Ela colocou suas mãos com firmeza sobre o veículo e o agente a revistou. Sua filha começou a chorar e então Moore registrou o momento.

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Depois disso, as duas entraram na van do governo americano e partiram. Ele diz que não sabe o que aconteceu com elas, mas caso a regra da tolerância zero tenha sido aplicada, é provável que mãe e filha não estejam mais juntas. "Temo que elas tenham sido separadas", revelou o fotógrafo. / W. POST

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