Bento 16 defendeu conservadorismo e enfrentou casos de pedofilia

Joseph Ratzinger, que diz que não pensava em ser papa, permaneceu oito anos à frente do pontificado.

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Por BBC Brasil
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Quando foi eleito para comandar a Igreja Católica no mundo, em 2005, Joseph Ratzinger se tornou um dos mais velhos cardeais a assumir o cargo. O oitavo papa alemão da história tinha então 78 anos. Ratzinger - cujo papado foi marcado pelo conservadorismo, com a defesa das posições tradicionais da igreja - alega que nunca havia tido a intenção de ser papa. Pelo contrário, o professor e apreciador de Mozart e Beethoven disse que estava se preparando para a aposentadoria quando foi pego de surpresa pela morte de João Paulo 2º. Se o alemão, ou qualquer um dos cardeais que o elegeram, imaginava um papado tranquilo e curto, não mais que uma transição anunciando uma nova era, seus oito anos à frente do Vaticano mostraram o contrário. Bento 16 tomou as rédeas da Igreja no momento em que despontava um dos maiores escândalos que já envolveram a instituição: o dos abusos sexuais contra menores de idade, que atingiu seu auge em 2009 e 2010. Origens Joseph Ratzinger nasceu em uma tradicional família no Estado da Baviera (sul da Alemanha) em 1927. Aos 14 anos, como era obrigatório para os jovens alemães da época, filiou-se à Juventude Nazista e teve de interromper os estudos no seminário de Traunstein para lutar em uma unidade antiaérea em Munique. Perto do fim da Segunda Guerra Mundial, o jovem Ratzinger desertou o Exército alemão e foi rapidamente detido como prisioneiro de guerra pelos Aliados em 1945. Sua visão conservadora e tradicional se chocou com os ideais liberais dos anos 1960 e das décadas seguintes. Como professor de dogmas teológicos na Universidade de Bonn, entre 1959 e 1966, Ratzinger repudiou o marxismo - que considerava "tirânico, brutal e cruel" - que prevalecia entre seus estudantes. Mais tarde, ele entraria em choque com os adeptos da chamada Teologia da Liberação, doutrina de esquerda que pregava o envolvimento da Igreja Católica no ativismo social na América Latina e no Brasil. Depois de retornar à Baviera como professor na Universidade de Regensburg, foi nomeado cardeal de Munique pelo papa Paulo 6º em 1977. Gafes Antes de sua eleição para ser papa, Ratzinger foi por 24 anos uma das figuras mais importantes do Vaticano, liderando a Congregação para a Doutrina da Fé, órgão que promove e zela pelas doutrinas da igreja. As visões conservadoras e o estilo reservado do cardeal, que ficaram evidentes à frente da Congregação, se estenderiam também para o futuro papa. O tema central de seu papado foi a defesa dos valores fundamentais cristãos diante do que ele percebia como um declínio moral na Europa. Durante o pontificado, Bento 16 reforçou visões conservadoras em temas como homossexualismo, contracepção, celibato e ordenação de mulheres. Em seus momentos mais polêmicos, o padre também fez declarações criticadas por muçulmanos, judeus e protestantes. Seus simpatizantes dizem que as controversas declarações foram uma falsa representação do seu intento de reduzir as tensões com as diferentes crenças. Legado Ao enfrentar o escândalo de pedofilia, o papa encontrou vítimas e emitiu pedidos de desculpas inéditos. Enfatizou que os bispos notifiquem os casos de abusos e introduziu novas regras para apressar a apuração de denúncias de pedofilia. Mas críticos dizem que o alemão não compreendeu a seriedade dos crimes que lhe eram notificados, permitindo que ficassem anos sem resposta para evitar arranhar a imagem da Igreja. Por outro lado, os simpatizantes de Bento 16 alegam que ele foi o papa que mais agiu contra os abusos. "Quanta imundice existe na Igreja, e mesmo entre os padres", lamentou o pontífice após sua eleição. Seu gerenciamento da crise dos abusos sexuais foi duramente criticado na imprensa. Mais críticas vieram após a indicação de um ex-jornalista da rede de TV conservadora americana Fox News para cuidar da estratégia de comunicação do Vaticano. Para Bento 16, as questões de relações públicas não se comparam aos desafios de longo prazo da Igreja: o distanciamento de milhões de católicos em todo o mundo e o declínio do número de padres ordenados no Ocidente. Seu legado será ter enfrentado esses desafios com a certeza absoluta de que os dogmas da Igreja não devem se curvar com os ventos. É uma visão que desagrada os que defendem a adoção de posições mais progressistas pelo catolicismo oficial - mas que satisfaz aqueles que creem no contrário, que são esses momentos mais difíceis que requerem posições mais firmes. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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