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Bento XVI diz que Igreja "não faz política"

"À Igreja, não corresponde a incumbência de agir no âmbito político para construir uma ordem justa na sociedade. Isso corresponde aos fiéis laicos"

Por Agencia Estado
Atualização:

O papa Bento XVI disse nesta quinta-feira que a Igreja não faz política, afirmou que o iluminismo e o laicismo estão "invadindo" o Ocidente e pediu aos fiéis que se oponham com "determinação" às normas que "atentam contra a vida". O discurso de Bento XVI foi feito no IV Convênio Eclesiástico Nacional em Verona, norte da Itália, quando o papa defendeu a escola católica e disse que pesam sobre ela "velhos preconceitos" que geram danos na educação da pessoa. Bento XVI viajou nesta quinta-feira exclusivamente a Verona, onde fez um discurso de 1h15 no qual traçou as linhas da Igreja italiana para os próximos anos e foi muito aplaudido. Cercado por todos os bispos italianos e diante de 2.700 participantes, o sumo pontífice disse que a Igreja "não é, nem pretende ser", um agente político, que "não faz política", e que sua intenção é "contribuir para que seja feito o justo". "É necessário sobrepor as exigências da justiça aos interesses pessoais, ou de um grupo, ou do Estado. À Igreja, não corresponde a incumbência de agir no âmbito político para construir uma ordem justa na sociedade. Isso corresponde aos fiéis laicos, entre eles, os cristãos laicos", disse. Bento XVI disse também que é preciso prestar grande atenção aos "grandes desafios" da humanidade, entre eles destacou as guerras, o terrorismo, a fome, a seca e as epidemias. O sumo pontífice disse também que é preciso enfrentar "com determinação e clareza" o "risco de decisões políticas e legislativas que contradizem valores fundamentais e princípios antropológicos e éticos radicados no ser humano, em particular os que se referem à tutela da vida humana em todas suas fases". O papa pediu que a vida seja defendida "desde sua concepção até a morte natural". De forma indireta, voltou a condenar o aborto e a eutanásia. Bento XVI também defendeu, mais uma vez, a família tradicional baseada no casamento entre homens e mulheres, condenando, assim, os casamentos entre homossexuais e a união estável. "Deve-se evitar que sejam introduzidas na ordem pública outras formas de uniões que contribuiriam para desestabilizar a família e obscurecer seu caráter peculiar e seu insubstituível papel social", disse. O papa denunciou a cada vez maior secularização na Itália, "na mesma linha do Ocidente", e que essa cultura laica "pretende se colocar como universal, auto-suficiente e gerar um novo estilo de vida". "De tudo isso, surge uma nova onda de iluminismo e laicismo, para os quais racionalmente só é válido aquilo que se pode experimentar e calcular", disse o papa, que afirmou que Deus está "excluído" da cultura e da vida pública. "A fé em Cristo é cada vez mais difícil, porque vivemos em um mundo que se apresenta quase sempre como obra nossa, no qual Deus não aparece, parece supérfluo e estranho", disse. Bento XVI afirmou que este tipo de cultura representa um "corte radical e profundo não só com o Cristianismo, mas também com as tradições religiosas e morais da humanidade", e que ela não tem condições "de instaurar um verdadeiro diálogo com as outras culturas, nas quais a dimensão religiosa está fortemente presente". Com essas palavras, o papa reiterou o que já havia dito durante seu recente viagem à Alemanha: que os povos muito religiosos da África e da Ásia vêem no pensamento ocidental uma ameaça a sua identidade.

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