Bento XVI pede mais "espaço no mundo" para Deus

O papa fez a afirmação um dia após pronunciar, em Munique, que o Ocidente se acostumou a desprezar Deus e a considerar que fazer isto é um direito de liberdade

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Por Agencia Estado
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Em sua viagem pela Alemanha, Bento XVI visitou nesta segunda-feira Altötting, conhecida como o "coração religioso" da Baviera, onde pediu aos homens que "dêem espaço no mundo" para Deus. Perante cerca de 70 mil pessoas reunidas na praça do santuário de Altötting, o mais famoso da Alemanha e da Europa central, o papa disse que, "onde Deus é grande, o homem não se apequena, mas também se torna grande". "Engrandecer Deus significa dar-lhe espaço no mundo, na própria vida, deixá-lo entrar em nosso tempo e em nossas ações. Essa é a essência mais profunda da verdadeira prece. Onde Deus é grande, o homem não se apequena, mas também se torna grande e luminoso", afirmou o Bispo de Roma. Bento XVI pronunciou estas palavras um dia após afirmar em Munique que o Ocidente se acostumou a desprezar Deus e a considerar que fazer isto é um direito de liberdade, mas que este tipo de tolerância não é a que os povos desejam, "já que tolerância significa respeitar aquilo que é sagrado para os outros". Atentados de 11 de Setembro são lembrados na missa Os atentados de 11 de Setembro foram lembrados na missa quando, no momento das preces, um dos fiéis disse: "Cinco anos depois do ataque terrorista ao World Trade Center, de Nova York, nós rezamos pela paz no mundo". Bento XVI se sente muito ligado a Altötting, distante 20 quilômetros de Marktl am Inn, a pequena cidade onde nasceu em 16 de abril de 1927. A família Ratzinger visitava com freqüência o santuário e o próprio papa disse em uma ocasião que teve a sorte de nascer próximo a Altötting e visitá-la regularmente. Bento XVI visitava especialmente a capela das Graças (Gnadenkapelle), onde está a Virgem Negra, uma pequena imagem de madeira, conhecida por esse nome devido ao escurecimento que sofreu com a passagem do tempo e à fumaça de milhares de velas acesas durante séculos pelos fiéis. A imagem data de 1330 e o santuário, visitado anualmente por mais de um milhão de pessoas, é famoso por duas aparições de Nossa Senhora em 1489. A pequena capela expõe mais de dois mil ex-votos e possui uma urna de prata com os corações de todos os reis da Baviera. Bento XVI fará visita a túmulos de familiares Ao chegar nesta segunda-feira em Altötting, a primeira coisa que o Bento XVI fez foi se ajoelhar aos pés da Nossa Senhora. Emocionado, rezou durante vários minutos e seguiu em procissão até o altar montado na praça, onde rezou a missa. O irmão mais velho de Bento XVI, Georg, de 82 anos, participou da missa, assim como cardeais e bispos da região. Foi a primeira vez que os dois irmãos se encontraram durante a segunda viagem do Pontífice pela Alemanha. Na próxima quarta-feira, Bento XVI passará o dia em família e fará uma visita ao túmulo de seus pais e irmã, enterrados no cemitério de Regensburg, onde vive Georg. Após a missa, Bento XVI, que disse se sentir verdadeiramente em casa, conduziu uma procissão com a estátua de Nossa Senhora pela praça do templo até a nova capela do Santuário, que foi abençoada por ele. Bento XVI e seus "fortes sentimentos" pela Alemanha O novo porta-voz do Vaticano, o jesuíta Federico Lombardi, expressou a satisfação da Santa Sé pela recepção do Pontífice em Munique. "Munique é uma cidade de tradição liberal, com forte presença evangélica, muito diferente das zonas rurais bávaras, por isso não esperávamos uma recepção tão cordial como a recebida", afirmou Lombardi, acrescentando que o papa estava "muito contente" e "satisfeito" pelo desenvolvimento da viagem. Lombardi também ressaltou que os fortes sentimentos de Bento XVI pela Alemanha estão dando "uma grande intensidade" à viagem e que esta forte intensidade é outro "sinal" da continuidade do pontificado de João Paulo II, em referência ao amor de Karol Wojtyla pelo seu país natal. Em seu discurso de domingo em Munique, Bento XVI afirmou que os povos da Ásia e da África não consideram o cristianismo uma ameaça a sua identidade e que a verdadeira ameaça é "o desprezo de Deus e o cinismo que considera o desprezo do sagrado um direito de liberdade". Alguns meios de comunicação internacionais consideraram as palavras uma referência ao Islã e às charges sobre Maomé. Lombardi disse que o discurso do papa era muito "mais amplo", que não era uma referência a algo concreto, mas uma advertência sobre a secularização cada vez maior no Ocidente.

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