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Berlusconi acha que Ocidente deve "conquistar povos"

Por Agencia Estado
Atualização:

Segundo o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, "o Ocidente deve ter consciência da supremacia de sua civilização e continuar a ocidentalizar e conquistar os povos". A declaração - duramente criticada na Itália, onde está sendo definida como mais uma das famosas gafes do líder da direita - foi feita nesta quarta-feira durante a visita do chefe de governo italiano a Berlim, onde encontrou o presidente russo, Vladimir Putin, e o chanceler alemão, Gerhard Schroeder. Berlusconi confirmou o apoio da Itália aos EUA e definiu a resposta ao ataque terrorista do dia 11 como "um dever, uma necessidade e um direito" que, no entanto, deve ser controlado para não provocar vítimas civis. Mas o primeiro-ministro deixou a diplomacia por aí. Referindo-se aos atentados a Nova York e Washington como "ataques contra nossa civilização, da qual reconhecemos a superioridade", ele afirmou que esta civilização, com suas descobertas e invenções "nos deu as instituições democráticas, o respeito aos direitos humanos, religiosos e políticos que não existe nos países islâmicos". Para o líder italiano - que apóia a política norte-americana mesmo em questões polêmicas como o Tratado de Kyoto e o escudo antimísseis -, o Ocidente deve conquistar os povos como fez no passado. "Já aconteceu com o mundo comunista e com uma parte do mundo islâmico, mas há uma parte que está 1.400 anos atrás", disse. As reações de indignação pelas palavras de Berlusconi foram imediatas. "Perigoso estabelecer hierarquias entre civilizações", comentou Tulia Zevi, ex-presidente da União das Comunidades Israelitas-Italianas. "O primeiro-ministro deve liberar-se do hábito de generalizar e do complexo de superioridade." Os líderes da oposição recordam a Berlusconi que o presidente norte-americano, George W. Bush, conseguiu unanimidade justamente porque evitou tons de cruzada e afirmou que os valores da liberdade são abastecidos com o respeito às identidades culturais, religiosas e nacionais. Mais dura ainda foi a reação de Giovanni Berlinguer - médico, professor universitário, além de candidato à secretaria do Partido Democrático de Esquerda. Para Berlinguer, Berlusconi se exibe no exterior em "extravagantes e perigosos apelos ao choque entre civilizações, à necessidade de políticas de conquista do Ocidente, usando temas e argumentos que nenhum estadista digno deste nome usou nessas semanas terríveis para a humanidade". Ao término da viagem a Berlim, Berlusconi ainda criticou o movimento antiglobalização. Na última reunião do Grupo dos Oito, em Gênova, a violenta reação da polícia contra os manifestantes criou sérios problemas de imagem para a Itália. Berlusconi disse que há uma "singular coincidência" entre os atentados terroristas nos EUA e o movimento antiglobalização.

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