Bibi ignora apelo dos EUA e diz que obras na Cisjordânia serão retomadas

Primeiro-ministro israelense declara que congelamento de expansão dos assentamentos não será renovado depois do dia 26, justifica decisão alegando que a vida dos moradores do local ''não pode ficar congelada'' e opta por não desafiar a ultradireita

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Por Gustavo Chacra
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Ignorando os apelos da Casa Branca e do Departamento de Estado dos EUA, o premiê de Israel, Binyamin "Bibi" Netanyahu, declarou ontem que a medida que congela a expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia não será renovada. A moratória, estabelecida há dez meses, expira dia 26 e os palestinos consideram sua manutenção fundamental para o sucesso do recém-lançado diálogo direto patrocinado pelos EUA."Os palestinos demandam que não haja construções depois de 26 de setembro. Mas Israel não pode manter o congelamento", disse Netanyahu, admitindo o reinício das obras em duas semanas. De acordo com a organização pacifista israelense Peace Now, a construção de mais de 2.000 casas serão iniciadas assim que o congelamento for encerrado.O primeiro-ministro acrescentou que os israelenses "não construirão todas as residências já aprovadas (pelo organismo que regulamenta construções de Israel), mas também não podemos congelar a vida dos residentes de Judeia e Samaria (nomes bíblicos pelos quais os judeus se referem à Cisjordânia)".Caso mantivesse o congelamento, integrantes mais conservadores de sua coalizão ameaçavam deixar o governo, provocando um colapso da administração do atual premiê. A Casa Branca e o Departamento de Estado não comentaram imediatamente as declarações de Netanyahu. Na sexta-feira, durante entrevista coletiva em Washington, o presidente americano, Barack Obama, havia afirmado que "o bom senso indica que Israel deve manter o congelamento" - apesar de deixar claro que entende as dificuldades do premiê para convencer sua coalizão a renovar a moratória.Analistas destacam a delicadeza da situação de Netanyahu, que precisa se equilibrar entre o processo de paz - bancado por seu principal aliado e patrocinador no exterior - e a agenda política doméstica israelense."O governo apenas se mantém estável porque resiste à pressão americana sobre o processo de paz. Netanyahu não é ingênuo. Ele sabe o ocorreu com seu governo (1996-1999) e todos os outros desde 1990 - foram derrubados pela direita. Desta vez, ele decidiu proteger esta sua base direitista. Isso acaba indo contra os passos necessários para atender às mínimas exigências dos palestinos com o objetivo de chegar a um acordo", disse em análise Steven Cook, analista de Oriente Médio do Council on Foreign Relations, em Nova York.A paralisação na expansão dos assentamentos tinha sido determinada por Netanyahu como forma de restabelecer a confiança dos palestinos. No início deste mês, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, reuniu-se com o premiê israelense nos EUA depois de 20 meses sem diálogo direto. Os dois líderes devem encontrar-se novamente no dia 22, em Sharm el-Sheikh, no Egito.Abbas tem declarado nas últimas semanas que a retomada das construções nos assentamentos significaria o fim das negociações. O presidente palestino ão se manifestou sobre a decisão de Netanyahu. A resposta palestina foi dada por Saeb Erekat, chefe dos negociadores. "Espero que o governo israelense, tendo que escolher entre a paz e os assentamentos, escolha a paz. Não dá para ter os dois", disse.PONTOS DE ATRITOAssentamentos - Congelamento de construções israelenses na CisjordâniaRefugiados - Direito de retorno dos palestinos que deixaram a região em 1948Jerusalém Oriental - Devolução da zona ocupada em 1967, que os palestinos querem como capital do futuro Estado

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