Para evitar o colapso das negociações de paz e uma revolta de sua base aliada, o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, desengavetou uma proposta de seu antecessor, Ehud Olmert, para permitir construções nos três principais assentamentos na Cisjordânia - cuja anexação ao território israelense o governo considera certa. A informação foi revelada ontem pelo jornal israelense Haaretz.O anúncio seria feito hoje em Sharm el-Sheikh (Egito), no segundo encontro entre o líder israelense e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Os dois já se reuniram nos EUA, há duas semanas, para iniciar o chamado "diálogo direto". Os palestinos ameaçam deixar a mesa de negociação caso Israel não concorde em prorrogar o congelamento total na expansão de assentamentos. Em dezembro, Bibi declarou uma moratória de dez meses nas construções israelenses na Cisjordânia - gelo que oficialmente expira no dia 26.Temendo um agravamento da crise, o Departamento de Estados dos EUA, que serve de mediadores das conversas de paz, decidiu cancelar eventos ligados à imprensa depois do encontro de hoje. Netanyahu, Abbas e a secretária de Estado, Hillary Clinton, devem apenas posar para fotos.Após a reunião no Egito, Hillary embarca para Jerusalém para voltar a se reunir com Netanyahu e outras autoridades israelenses, amanhã. No dia seguinte, a secretária de Estado tem encontro com Abbas e o premiê palestino, Salam Fayyad, em Ramallah. A viagem de Hillary a Israel e Cisjordânia depois da cúpula no Egito busca convencer os dois lados a permanecer nas negociações, mesmo se nenhum compromisso real for alcançado no diálogo de hoje. O governo americano tentou ao longo do fim de semana pressionar Israel a manter o congelamento na construção de novas unidades residenciais nos assentamentos. A moratória é uma exigência dos palestinos, que reivindicam o território como parte de seu futuro Estado.Netanyahu, porém, enfrenta internamente uma força no sentido oposto, para a permissão na retomada nas construções. Caso o premiê mantenha o congelamento, integrantes de sua coalizão ameaçam deixar o governo, o que pode provocar o fim da atual administração israelense.Ariel. A saída do primeiro-ministro foi permitir novas construções apenas nos maiores assentamentos, como Maale Adumim, Gush Etzion e Ariel, que são praticamente cidades, mas manter a paralisação nos menores. Israel afirma que estas colônias maiores permaneceriam sendo territórios israelenses em qualquer acordo de paz. Em troca, os palestinos receberiam terras em áreas não habitadas.O principal problema está em Ariel. Esse assentamento, diferentemente dos outros dois, não está perto da fronteira entre Israel e a Cisjordânia. Com uma população de quase 20 mil colonos, fica 20 quilômetros território palestino adentro. Na avaliação de analistas, se Israel mantiver Ariel, o futuro Estado palestino precisará ser praticamente cortado ao meio.Palestinos até agora rejeitam a ideia de Israel manter pedaços de território na Cisjordânia.Os israelenses também exigem que os palestinos façam concessões importantes. Netanyahu demanda o reconhecimento de Israel como Estado judaico - a Autoridade Palestina concorda apenas em reconhecer o Estado israelense, mas não aceita falar em religião. Analistas como o professor de Harvard Alan Dershowitz, um dos maiores defensores de Israel nos EUA, dizem que poderiam haver gestos como o rei Abdullah, da Arábia Saudita, convidar Netanyahu para ir a Riad. O colunista Thomas Friedman, do New York Times, escreveu artigo na mesma linha. A Liga Árabe propõe estabelecimento de relações com Israel caso haja retirada dos territórios ocupados em 1967 - Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jerusalém Oriental e Colinas do Golã.PARA ENTENDERA colonização da Cisjordânia foi inicialmente incentivada por militares israelenses pouco após o território ser ocupado na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Eles acreditavam que a povoação judaica, sobretudo do Vale do Jordão, reduziria as ameaças ao território israelense. Pouco a pouco, porém, religiosos viram nos assentamentos um instrumento para assegurar o controle judaico sobre a "Judeia e Samaria", realizando o sonho da Grande Israel. Hoje, de acordo com a organização Paz Agora, de Israel, apenas um terço dos colonos estão no território palestino por "ideologia". Os demais teriam escolhido viver nos assentamentos pelos atrativos incentivos fiscais e práticos oferecidos pelo governo.