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‘Biden pode retirar cascas de banana da economia global’, diz Alexandre Schwartsman

Para economista, governo democrata não fará muita diferença para o Brasil, pois problemas do País são domésticos

Por Vinicius Neder
Atualização:

Com a eleição de Joe Biden, “muitas das cascas de bananas” que atrapalham a economia global serão removidas, permitindo crescimento um pouco maior no mundo, mas não fará diferença significativa para o Brasil, na análise de Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e sócio da consultoria Schwartsman & Associados. Para ele, embora um mundo que cresça mais seja melhor do que um que cresça menos, os problemas brasileiros são dissociados da política americana.

Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central Foto: Gabriela Biló/ Estadão

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O mercado tem reagido positivamente à uma escolha de Joe Biden. Há motivos para isso? Será um governo melhor. Tira muitas das cascas de banana que temos na economia global, mas não todas. Acho difícil, por exemplo, que se volte atrás na política comercial com a China, independentemente se Biden tem visão mais ou menos protecionista do que o Trump. Acredito que seja menos, mas, politicamente, será complicado para ele voltar atrás nessa área.

Isso porque não houve a chamada ‘onda azul’? Estamos contemplando um governo em algum grau dividido. Os democratas vão ficar com a Câmara, um pouco enfraquecidos, e não levaram o Senado. Significa que, com Biden eleito, devem continuar as tensões para aprovar um pacote de estímulo fiscal. Essas dificuldades iriam embora se houvesse a onda azul e os democratas levassem o Senado. Aí haveria condição de mudança importante do ponto de vista de políticas de estímulo fiscal.

O que melhora com Biden? Veremos uma postura mais razoável sobre o Acordo de Paris. É mais positivo para o mundo. O Biden é uma pessoa com a qual se pode conversar, é bem preparado. É positivo, mas não será um milagre, não resolve as guerras comerciais que vão continuar, ainda que num tom abaixo, e o conflito entre China e EUA segue valendo. O que se teria é uma pessoa mais bem preparada para lidar com isso. 

Um governo mais preparado pode destravar investimentos para emergentes como o Brasil? Acho que não muda tanto porque, a rigor, o que Trump vem fazendo não nos afetava tanto. Não acho que vire o jogo, especificamente para emergentes. Teremos uma melhora geral e, num quadro de melhora geral, o apetite para risco cresce e alguma coisa vai melhorando.

A melhora na economia global poderia gerar uma onda positiva para a economia do Brasil? Os problemas brasileiros são mais domésticos do que internacionais. O que talvez possa ajudar seja um novo boom de commodities, como vimos de 2003 a 2011, mas isso não me parece depender do que vai ocorrer nos EUA. Se houver alguém que consiga lidar com os problemas americanos com um pouco mais de habilidade, inclusive a questão da pandemia, haverá algum crescimento a mais. Ajuda, mas o problema brasileiro está dissociado do que está ocorrendo lá fora.

Qual o principal problema do Brasil? É um problema de várias faces. A mais importante é a fiscal. Não há nada que o presidente americano faça ou deixe de fazer que mude nossa realidade nesse aspecto. Não depende dele, depende da gente. Temos estrutura tributária complicada, um clima de negócios horroroso e um governo que não consegue endereçar essas dificuldades. Obviamente, um mundo que cresça mais é melhor que um que cresça menos, mas não é aí que resolvemos nosso nó. Nosso nó tem a ver com nossa disposição de encarar esses problemas e mudar a estrutura institucional que deu origem a eles. Sabemos o que precisamos fazer, mas não fazemos.

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Há algo que pode piorar para o Brasil, como na área ambiental? Imagino que sim. Talvez nos force a reconsiderar o rumo que estamos tomando. Já tomamos uma traulitada numa pedra cantada, no acordo com a União Europeia, que de fato era uma baita conquista, e jogamos no lixo por causa da questão ambiental. Talvez um governo democrata nos EUA, que dê mais ênfase a esse tipo de coisa, mude algo, mas isso é importante para começarmos a fazer a coisa certa para o nosso bem.

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