Quando Joe Biden concorreu pela primeira vez ao Senado, em 1972, 40% dos democratas acreditavam que os brancos tinham o direito de impor a segregação nos bairros. Hoje, ele busca a indicação para a presidência em um partido diferente, cada vez mais progressista, diversificado e com eleitores bem instruídos. Poucos analistas o consideram um favorito óbvio, mesmo que as pesquisas mostrem isso.
Se Biden vencer, será porque os democratas mais idosos ainda têm os votos para decidir a indicação de candidato moderado, apoiado pelo establishment, como fizeram no passado. Por isso ele lidera as pesquisas.
Mas sua candidatura enfrenta obstáculos. Ele tem 76 anos e é considerado um ativista indisciplinado e propenso a gafes. Além disso, o histórico de 50 anos de Biden em Washington não é apenas moderado, mas fora de sintonia com os costumes do Partido Democrata de hoje.
Até bem pouco tempo, os democratas tentavam manter os eleitores conservadores e brancos da classe operária juntos em uma coalizão com negros e a elite liberal do partido. Os republicanos não facilitaram: eles tentaram afastar a base de conservadores brancos, muitas vezes com sucesso, apelando para raça e religião. Quase 40% se opunham ao casamento inter-racial em 1974 e 80% eram contra a legalização da maconha e acreditavam que o homossexualismo era um erro. No geral, três quartos dos democratas eram brancos sem diploma universitário e metade deles era de brancos moderados sem diploma universitário.
Hoje, os que se identificam como liberais se igualam ou até mesmo superam moderados e conservadores dentro do partido. Os eleitores brancos sem diploma representam apenas 30% dos eleitores democratas. Não há dúvida de que este não é o Partido Democrata dos anos 90.
Hoje, o Partido Democrata está dividido entre passado e futuro, entre brancos sem diploma universitário, idosos e jovens, entre progressistas radicais e moderados. As divisões dificultam o argumento de que algum candidato terá caminho fácil para a indicação. Biden, no entanto, reúne alguns pontos fortes.
Ele entra em alta por ter sido vice de Barack Obama e é visto por muitos como o democrata mais “elegível”. Em última análise, se o Partido Democrata ainda for um pouco mais parecido com seu passado do que com seu futuro, ele larga em vantagem. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO É JORNALISTA