PUBLICIDADE

Bill Gates e Fundação Rockefeller recebem críticas no FSM

As duas instituições anunciaram recentemente a criação de uma Aliança para a Revolução Verde na África, na qual pretendem investir US$ 150 milhões

Por Agencia Estado
Atualização:

A Fundação Rockefeller e a fundação dirigida pelo magnata da informática Bill Gates foram hoje duramente criticadas durante o primeiro dos quatro dias destinados a debates e propostas no Fórum Social Mundial (FSM), que está sendo realizado em Nairóbi. As duas instituições anunciaram recentemente a criação de uma Aliança para a Revolução Verde na África, na qual pretendem investir US$ 150 milhões. "A estratégia de Gates e Rockefeller servirá apenas para tirar totalmente as posses dos agricultores africanos. Seu método é completamente obsoleto", disse Vandana Shiva, conhecida ativista Indiana. Segundo a organização Food First, os que apóiam a iniciativa acreditam que melhorará a vida dos pobres camponeses africanos que não se beneficiaram da "revolução verde" que ocorreu na Ásia a partir dos anos 60. A ação consistiu na distribuição de sementes híbridas, adubos e pesticidas aos agricultores, com o objetivo de aumentar a produtividade das terras. No entanto, as substâncias químicas presentes nos adubos e pesticidas "provocam a perda da diversidade agrária, a base para a vida dos camponeses e equilíbrio ambiental", de acordo com a Food First. "A revolução verde na Índia destruiu a terra mais rica do país e, onde antes eram plantadas até 250 variedades de semente, hoje são plantadas apenas três: milho, arroz e algodão. Não produziu mais comida, só mais arroz e menos legumes", disse Shiva. "Os camponeses se endividam para pagar os caros sementes e adubos, e, com preços como os do algodão caindo, estão endividados. Mais de 150 mil agricultores suicidaram-se na última década devido ao desespero por suas dívidas; outros estão vendendo seus rins para pagá-las", acrescentou a ativista. "Isto é o que queremos para a África?", questionou Shiva. "Mais alimentos podem ser produzidos trabalhando em conjunto com a terra, não contra ela; preservando a biodiversidade, não destruindo-a", acrescentou a ativista. Segundo a indiana, ensaiar uma revolução verde na África não ajudará os camponeses, mas sim as empresas produtoras de pesticidas ou a indústria multinacional de sementes, que gera um lucro de US$ 1 trilhão ao ano, segundo Shiva. Também participaram do ato camponeses da Etiópia, que defenderam a volta a um sistema "livre de adubos". "Tive que vender minhas vacas para pagar os produtos químicos", afirmou Borena Gergera, morador da região de Oromo. "Nós, os agricultores, deveríamos dizer não a qualquer imposição que reduza a variedade de sementes que podemos plantar", acrescentou Gergera. Os tambores africanos não deixaram de soar durante o primeiro dos quatro dias dedicados aos debates do fórum, que acontece em um complexo esportivo a aproximadamente 18 quilômetros do centro da cidade. No local, os presentes tiveram que esperar até duas horas na fila para conseguir se registrar. Alguns dos atos previstos para primeira o início do dia não ocorreram, mas, conforme o dia avançava, os stands de várias organizações foram enchendo de participantes, panfletos informativos, artigos de comércio à venda e artesanato africano. Mais de 100 mil pessoas são esperadas na sétima edição do FSM em Nairóbi, cujo lema é "Outro Mundo é Possível". O evento é realizado desde 2001 em janeiro para coincidir com o Fórum Econômico Mundial, que acontece na cidade suíça de Davos. No programa do FSM, estão mais de 600 atividades diárias organizadas pelos movimentos participantes. Estão detalhados no programa os debates, mesas-redondas e exposições, que abordarão tópicos como violência contra as mulheres, direito àterra das populações indígenas africanas, promoção dos direitos humanos e um debate sobre ONGs e neocolonialismo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.