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Black Blocs em Paris

A imensa greve de hoje pode ser um perigo real para Macron; será também uma oportunidade de se saber quem são esses indivíduos que se misturam às marchas

Por Gilles Lapouge
Atualização:

Hoje a França não funcionará: uma greve gigantesca que agrupa todos os “descontentes”, ou seja, quase todo mundo, sufocará todas as grandes cidades. Alvo único: o governo Emanuel Macron, e essa mania que ele tem de precisar reformar tudo; mesmo uma paisagem, uma montanha, ele encontrará os defeitos para colocar tudo da maneira certa. Macron se vê a si mesmo como Júpiter, o rei dos deuses. A prova: ele jamais recua.

É brincadeira. Na verdade, Macron gasta seu tempo recuando, mas dizendo que está avançando. Já que pretende se comparar a um deus grego, teria sido mais correto em se mostrar como Mercúrio, deus do comércio, esperto em mentir.

Estação de trem de Saint Lazare, em Paris, esvaziada um dia antes dos protestos agendados dos black blocs contra a reforma da previdência proposta pelo presidente Emmanuel Macron Foto: Thibault Camus/AP Photo

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A imensa greve de hoje pode ser um perigo real para Macron. Será também uma oportunidade de se saber quem são esses indivíduos que se misturam às marchas e, em um dado momento, saem e atacam a polícia, lutam, quebram vitrines e o mobiliário urbano. 

São homens ou mulheres, audaciosos e notáveis combatentes. Suas cabeças ficam escondidas sob um capuz preto, seus olhos por óculos de esqui ou natação. Uma pequena mochila nas costas. Quando o ataque super-rápido termina, eles correm para um local previamente marcado, jogam seus trajes de batalha na sacola e se misturam na multidão, nem vistos nem conhecidos.

Eles têm líderes? Nada disso. Uma organização eficiente porque é totalmente desorganizada. Assim que um distúrbio é anunciado em uma cidade europeia ou americana, as notícias circulam e eles marcam os pontos de encontro. Essas pessoas não se conhecem. Esse bando fluido e inteligente em geral é hábil ao escapar da polícia.

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E, embora trabalhem há muito tempo, desde a “Guerra do Golfo” (Israel em 1991), eles permanecem um enigma. Não sabemos nem mesmo o que querem: aqueles que se consegue prender dizem: “Nós não somos um movimento político. O nome Black Blocs diz isso. Somos uma tática, um sistema de luta”.

Mas com que finalidade, essa luta? Eles não dizem nada. Houve uma época em que se pensava que eles pertenciam à ultradireita (fascistas ou até nazistas). Hoje em dia, é a tese anarquista que prevalece ou é a trotskista. De fato, seus métodos são uma reminiscência dos anarquistas que se rebelaram com violência no final do século 19 em alguns países, especialmente Itália ou França.

Seus alvos durante ataques com as máscaras rígidas, leves e ágeis são eloquentes. Em primeiro lugar tudo o que representa o Estado ou suas metástases: ministérios, quartéis. Alvo privilegiado: os dispositivos da ordem: polícia, policiais. A raiva deles também investe contra o capitalismo. Eles quebram os bancos, máquinas de venda automática, lojas de luxo e tudo o que lembre as restrições insuportáveis às quais os cidadãos estão submetidos.

Tantos sinais que sugerem uma ideologia de extrema esquerda, não da extrema direita. Ficamos surpresos com os Black Blocs distribuindo dinheiro ou objetos roubados aos sem-teto. 

Quando a polícia prende alguns, raramente é um pobre, mas um burguês (de preferência alta burguesia) com um nível de educação superior. Finalmente, entre as razões que atraíram esses jovens, não se deve negligenciar um perfume de romantismo... O que não se faria em nome de um frisson? / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

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*É CORRESPONDENTE EM PARIS

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