29 de janeiro de 2010 | 18h12
O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair disse nesta sexta-feira, em depoimento em um inquérito sobre a participação da Grã-Bretanha na Guerra no Iraque, que não se arrepende de ter ajudado a derrubar o governo de Saddam Hussein e que tomaria novamente a decisão de enviar tropas ao país.
"A decisão que tomei, e francamente tomaria de novo, foi que, se houvesse qualquer possibilidade de que ele (Saddam) pudesse desenvolver armas de destruição em massa, nós deveríamos impedi-lo", disse.
Saddam era um "monstro e acredito que ele ameaçava não apenas a região, mas também o mundo", completou.
Após responder perguntas, por seis horas, Blair foi confrontado por membros do público que o criticaram.
Planejamento
Blair disse que acredita que o povo iraquiano "está melhor" hoje do que antes da invasão em 2003.
Se Saddam não tivesse sido removido, "teríamos uma situação hoje onde o Iraque competiria com o Irã" tanto em termos de capacidade nuclear, mas também "no apoio a grupos terroristas", analisou.
O ex-premiê admitiu que a Grã-Bretanha subestimou as dificuldades do pós-guerra, especialmente a possibilidade de a rede extremista Al-Qaeda se organizar no país e o efeito desestabilizador do Irã.
"Estávamos preparados para o que achávamos que aconteceria", disse.
George W. Bush
Blair negou que tivesse acertado um "acordo secreto" para invadir o Iraque com o ex-presidente americano George W. Bush durante uma visita ao rancho do líder americano em Crawford, no Texas.
O ex-premiê disse que concordou publicamente naquela ocasião em se juntar à ação militar que os Estados Unidos planejavam no Iraque e que foi "aberto" sobre isso.
Blair defendeu a ação militar de 2003 no Iraque dizendo que Saddam Hussein tinha passado a representar uma ameaça de novas dimensões após os ataques da Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001.
"Depois do 11 de setembro, nossa visão e a dos Estados Unidos mudou" disse Blair, acrescentando que essa visão parecia não ser compartilhada por outros líderes ocidentais.
Blair disse que as sanções previstas pela ONU contra o Iraque já não serviam mais para conter as ambições de Saddam e que a nova resolução que estava sendo discutida nas Nações Unidas "era diluída".
Ele disse que na base da decisão de invadir o país estava a necessidade de passar a mensagem clara de que "se você é um regime engajado no desenvolvimento de armas de destruição, terá que parar".
"Não poderíamos correr o risco de permitir que o regime brutal e opressivo de Saddam desenvolvesse armas de destruição em massa", disse Blair.
Para Blair, Saddam "violou resoluções da ONU sobre armas de destruição de massa", e esse teria sido o motivo oficial da ação militar.
Ele negou que teria apoiado a invasão mesmo se acreditasse que Saddam não tinha armas de destruição em massa, como pareceu indicar em uma entrevista à BBC concedida no ano passado.
Remover Saddam "sempre foi apenas uma opção entre várias", disse Blair.
Chilcot
Esta é a primeira vez que Blair responde em público a perguntas sobre os fatos que antecederam a ação militar liderada pelos Estados Unidos e em que a Grã-Bretanha desempenhou um papel de peso.
A participação de Blair no chamado inquérito Chilcot vinha sendo bastante esperada no país.
Iniciado no final de novembro, o inquérito está analisando o período entre 2001 e 2009 e observar três pontos principais: a justificativa para a entrada no conflito, a preparação para a invasão do Iraque e as deficiências no planejamento para a reconstrução do país asiático.
Com membros nomeados pelo primeiro-ministro, Gordon Brown, o júri, presidido por John Chilcot, não vai estabelecer culpa ou determinar responsabilidade civil ou criminal, mas apenas emitir advertências e recomendações, para evitar que eventuais erros cometidos no episódio sejam repetidos no futuro.
O relatório final será debatido no Parlamento.BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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