Blair enfrenta crescente rebelião em seu partido

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Por Agencia Estado
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O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, tentava conter hoje uma crescente revolta, dentro de seu próprio partido, contra a guerra com o Iraque, depois que uma ministra ameaçou renunciar e qualificou sua política como "temerária". Um terço dos parlamentares do Partido Trabalhista, no governo, já havia manifestado sua oposição ao apoio de Blair aos Estados Unidos, mas a secretária do Desenvolvimento Internacional Clare Short foi a primeira figura do governo a ameaçar renunciar em vista da crise iraquiana. Um porta-voz de Blair, que pediu para não ser identificado, negou-se a dizer se Short será demitida - a atitude normal em tal situação. O porta-voz afirmou que Blair e Short conversaram "brevemente" no domingo, e novamente hoje. As duras críticas de Short à forma como Blair está conduzindo a crise iraquiana foi uma extraordinária mostra de desafio à liderança do primeiro-ministro. O sistema de gabinete exige que os ministros apresentem uma posição unificada em público, mas Blair está sob crescente pressão. Apesar de a liderança de Blair não estar sob uma ameaça direta, ele enfrenta uma difícil luta para conseguir o apoio da maioria de seus parlamentares e pode acabar dependendo do apoio da oposição conservadora em qualquer votação futura sobre uma possível guerra. O primeiro-ministro se concentrava hoje em obter apoio para uma nova resolução da ONU - elaborada por Grã-Bretanha, Estados Unidos e Espanha - que daria a Saddam Hussein até 17 de novembro para se desarmar ou enfrentar a guerra, disse seu porta-voz. A maioria no Partido Trabalhista apoiaria Blair se o Conselho de Segurança (CS) aprovasse uma nova resolução abrindo caminho para a ação militar. "Sua atenção continua em conseguir uma segunda resolução", explicou o porta-voz. Ele acrescentou que Blair passou o fim de semana buscando, por telefone, apoio de líderes mundiais à nova resolução. A ministra britânica para a África, baronesa Amos, partiu hoje para um giro por Camarões, Angola e Guiné, numa tentativa de convencer esses membros do Conselho de Segurança a votar a favor da resolução. "Não podemos permitir que o Iraque nos engane com concessões menores e postergações infindáveis", pediu hoje o secretário de Defesa Geoff Hoon. "Sim, tem havido progressos modestos, por exemplo o desmantelamento de 34 mísseis Al-Samoud-2 do Iraque. O progresso ainda é bem-vindo, mas as concessões são pequenas e ainda visam a frustrar, e não a atender, o desejo da comunidade internacional", disse. Short disse à rádio BBC na noite de domingo que renunciará se Blair for à guerra sem o respaldo do Conselho de Segurança da ONU. França, Rússia e China opõem-se à nova resolução e querem que seja dado mais tempo aos inspetores. "Temo acreditar que toda a atmosfera, na atual situação, é profundamente temerária - temerária para o mundo, temerária por minar a ONU neste mundo desordenado... temerária para nosso governo, temerária para nosso próprio futuro, posição e lugar na história", afirmou ela. O escritório de Blair informou, no domingo, que a secretária não havia conversado com o premier antes de falar à BBC. O apoio de Blair à dura posição do presidente Bush em relação ao Iraque tem causado sérios problemas políticos. No mês passado, 122 parlamentares trabalhistas promoveram a maior rebelião desde que o partido chegou ao poder em 1997, votando por uma moção que dizia não estarem "provados" os argumentos para uma guerra contra o Iraque. O anúncio de Short ocorreu depois de o trabalhista Andrew Reed ter informado que estava renunciando a seu cargo de secretário privado parlamentar - um posto governamental de segundo escalão - aparentemente devido à crise iraquiana. Líder pede renúncia O deputado trabalhista e dirigente de honra do partido, Tam Dalyell, pediu que Tony Blair deixe logo o cargo, devido a sua posição em relação à crise iraquiana. "Creio que seja muito tarde para Tony Blair", disse Dalyell em entrevista à Rádio França Internacional. "Queremos mudar o primeiro-ministro e vamos buscar um político diferente de Tony Blair." "A Alemanha e França têm razão, e espero que outro premier (britânico) possa conversar seriamente com eles", afirmou o deputado. O membro do gabinete responsável pelo País de Gales, Peter Hain, disse que a preocupação dos parlamentares reflete a insatisfação dos eleitores. "Seria tolo se eu negasse isso, que existe um grande incômodo no Partido Trabalhista e isso, naturalmente, é refletido pelos parlamentares trabalhistas, que são os representantes aceitos de partes da nação e da população em geral", analisou Hain. Um funcionário parlamentar do oposicionista Partido Conservador, John Randall, também anunciou hoje sua renúncia por discordar do apoio de sua agremiação a Blair na crise iraquiana.

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