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Blair falhou em luta contra drogas no Afeganistão, diz jornalista

Para Misha Glenny, o primeiro-ministro britânico "fracassou desgraçadamente", afirma no último número do semanário New Statestman

Por Agencia Estado
Atualização:

O primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, "fracassou desgraçadamente" em sua proclamada ambição de erradicar a produção de ópio no Afeganistão. Assim afirma no último número do semanário New Statestman o jornalista investigativo Misha Glenny, que está escrevendo um livro sobre o crime organizado. Em outubro de 2001, Blair justificou com as seguintes palavras a participação do Reino Unido na invasão americana do Afeganistão: "Atuamos assim porque a rede Al Qaeda e o regime talibã são financiados, em boa medida, pelo comércio de drogas". "De toda heroína vendida nas ruas do Reino Unido, 90% procede do Afeganistão. Portanto, nos interessa pôr fim a esse comércio", disse, na época, o líder trabalhista. No entanto, segundo Glenny, essa luta foi gravemente comprometida pela recusa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em apoiar os programas de erradicação que o Governo de Londres considera essenciais para o sucesso da iniciativa. "Agora, os talibãs estão fazendo rios de dinheiro com a droga, garantindo, ao mesmo tempo, que suas forças continuem bem armadas", escreve Glenny. Os assessores do governo de Londres advertiram a tempo que o dinheiro previsto para a operação "Helmand" (nome da província afegã com as maiores plantações de papoula do país) - US$ 1,65 bilhão - não seria suficiente para as quatro metas da campanha de erradicação. Essas eram proteger as próprias forças britânicas, oferecer segurança à população local, levar a cabo a reconstrução econômica do país e erradicar as plantações de papoula. No Afeganistão, organizações criminosas apoiadas por uma rede de líderes tribais estão fazendo grandes negócios em colaboração estreita com os talibãs, diz o jornalista. Glenny faz um paralelo com a situação na Colômbia, onde o dinheiro da droga também serve para financiar atividades guerrilheiras. Na Colômbia, destaca o repórter, a riqueza derivada do comércio de coca equivale a apenas 3% do Produto Interno Bruto. No entanto, essa quantia é suficiente para financiar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e os paramilitares. No Afeganistão, desde a queda do regime talibã, o comércio de ópio representa, segundo fontes da ONU, nada menos que 51% do PIB, "o que torna impossível", destaca Glenny, "para o governo de Cabul controlar qualquer parte do país fora da capital".

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