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Blair faz discurso de apoio ao Paquistão

Por Agencia Estado
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O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, manifestou um eloqüente apoio político e econômico ao Paquistão, em troca do respaldo dado à coalizão liderada pelos Estados Unidos. Em entrevista coletiva depois de se reunir com o presidente Pervez Musharraf, Blair tocou nos pontos cruciais de interesse do Paquistão: a necessidade de formar um governo amigável no Afeganistão, com participação significativa da maioria pashto, e de poupar os civis afegãos de eventuais ataques, além da ajuda econômica e da reinserção política de Islamabad na comunidade internacional. "A partir do dia 11 de setembro, o mundo mudou, e todas as nações tiveram de escolher: ou estão do lado dos que combatem o terrorismo ou dos que os apóiam. O Paquistão escolheu o lado certo", disse Blair, a autoridade estrangeira de mais alto nível a visitar Islamabad desde os ataques do dia 11 aos EUA. O primeiro-ministro disse que ele e o presidente paquistanês concordaram quanto à necessidade de "todos os grupos étnicos se unirem para formar um novo governo", realçando, mais adiante, o papel que os pashtos, maioria tanto no Paquistão quanto no Afeganistão, deverão desempenhar. Blair disse também que "o Paquistão deve desempenhar um papel na definição do futuro do Afeganistão, para assegurar que seu vizinho se torne pacífico e estável". As duas declarações são destinadas a atender às preocupações do Paquistão quanto à perspectiva de os Estados Unidos aceitarem a oferta da Aliança do Norte, grupo rebelde afegão, de usá-la como ponta-de-lança de uma intervenção militar no Afeganistão. O governo paquistanês vê a Aliança - apoiada pela Índia e formada pelas minorias uzbeque, tajique e hazara - como um inimigo não só do Taleban, mas do Paquistão também. Um jornalista perguntou se essas considerações sobre o Afeganistão pós-Taleban significam que a coalizão liderada pelos EUA já se decidiu por uma ação militar para derrubar o regime fundamentalista afegão. Blair respondeu que não queria discutir detalhes da ação militar e que ninguém estava tomando decisões apressadas, elogiando o "comportamento responsável" dos EUA. "Temos reiterado que a ação deve ser proporcional e com alvos bem definidos, não contra o povo afegão, mas contra os terroristas e aqueles que os protegem", continuou o primeiro-ministro. "É simplesmente uma questão de justiça, não de vingança, e de criar um futuro mais estável e seguro para o povo afegão." Blair também chamou a atenção para a ajuda financeira - num total de US$ 100 milhões - que o Paquistão receberá para absorver uma eventual onda de refugiados afegãos e para a retomada, por parte da União Européia, da cooperação econômica. "Quero manifestar minha gratidão pela compreensão demonstrada diante dos problemas que o Paquistão e o meu governo estão confrontando", disse, de sua parte, o general Musharraf, cujo governo era alvo de sanções comerciais por causa do golpe militar que o levou ao poder em 1999, além dos testes nucleares realizados em 1998. Enquanto Blair desembarcava numa base aérea perto de Islamabad, às 17h20 locais (9h20 em Brasília), a poucos quilômetros dali, na cidade de Rawalpindhi, milhares de fundamentalistas protestavam contra a aceitação, por parte do Paquistão, das evidências apresentadas pelos EUA contra Osama bin Laden. Os manifestantes recordaram a derrota da Grã-Bretanha na guerra de independência do Paquistão, em 1947, sugerindo que o feito pode se repetir. Blair seguiria viagem ainda hoje para a Índia, o principal inimigo do Paquistão. O governo paquistanês já não se esforça, como fazia até a semana passada, em simular otimismo quanto a uma saída negociada para a crise. O embaixador afegão em Islamabad, Abdul Salam Zaeef, disse que o Taleban poderia levar Bin Laden a julgamento num tribunal afegão, se lhe forem mostradas evidências de seu envolvimento nos ataques do dia 11. O Estado perguntou ao porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Paquistão, Riaz Mohammad Khan, se isso poderia significar algum avanço no processo. "Você conhece tão bem quanto eu as exigências que a comunidade internacional fez ao Taleban", respondeu o diplomata, referindo-se ao ultimato para que Bin Laden fosse entregue aos EUA.

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