Blair não convence Putin de que Saddam tem armas de destruição em massa

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Por Agencia Estado
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O presidente russo, Vladimir Putin, depois de se reunir com o premier britânico, Tony Blair, afirmou, nesta sexta-feira, não ter recebido "provas convincentes" da existência de armas de destruição em massa no Iraque, enquanto o governo alemão manteve sua oposição a um ataque a Bagdá. A Rússia advertiu Blair de que vetará qualquer resolução no Conselho de Segurança da ONU que, além de prever o uso automático da força contra o Iraque, contenha "condições impossíveis de serem atendidas". Moscou quer evitar uma guerra a qualquer custo - revelaram observadores - sobretudo porque, depois de uma alta inicial dos preços do petróleo, um dos pilares da economia russa, eles logo baixariam. Por seu lado, o governo alemão se manifestou a favor de que seja testada a oferta de Bagdá de permitir incondicionalmente a entrada dos inspetores da ONU e acrescentou que as relações atuais de Washington com Berlim são "difíceis". O ministro do Exterior alemão, Joshcka Fischer, visitará em 30 de outubro ou 4 de novembro os Estados Unidos para tentar resolver as diferenças entre os dois países em relação ao Iraque. Blair, o principal defensor da linha-dura de George W. Bush contra o Iraque, tentou em conversa, nesta sexta, com Putin, convencer o presidente russo sobre a necessidade de pressionar Saddam com uma forte resolução da ONU. "Quando mais claro for o sinal enviado pela comunidade internacional, menos provável será o conflito", avaliou Blair, declarando-se seu otimismo em relação ao surgimento de "uma solução aceitável" no Conselho de Segurança. Putin respondeu que Moscou pode apoiar uma nova resolução, apesar de considerá-la "juridicamente" inútil devido à abertura de Bagdá, mas só para agilizar o trabalho dos inspetores. A chancelaria russa afirmou que Putin aceitaria uma nova resolução, mas rechaça o esboço divulgado pelos Estados Unidos, que prevê o uso automático da força caso Saddam não colabore com os inspetores e impõe "condições, que se sabe de antemão, são impossíveis de ser atendidas". Putin também não aceitou as "provas" recentemente apresentadas por Blair, e respaldadas pelos EUA, de que o Iraque detém ou busca armas proibidas. Depois de seu encontro com Blair, Putin disse não ter recebido "provas convincentes" sobre a existência de "armas nucleares ou outras de destruição em massa" no Iraque. Entretanto, Putin levou em conta os "temores" da comunidade internacional e concordou em que é "necessário enviar rapidamente os inspetores internacionais" a Bagdá. A posição do Kremlin não mudou apesar de Blair ter levado a Moscou o reconhecimento dos "legítimos interesses econômicos russos" no Iraque, ou seja, créditos de US$ 8 bilhões e contratos para os próximos dez anos com companhias petrolíferas nacionais no valor de US$ 40 bilhões. Apesar de Putin ter negado que suas "negociações" com Blair foram um "bazar persa", as questões econômicas pesam nas decisões de Moscou. Apesar de os EUA estarem dispostos a reconhecer os interesses russos na região em troca do apoio a um ataque, as vantagens podem ser menores do que as perdas. Especialistas avaliam que uma mudança de regime permitiria ao Iraque aumentar sua produção atual de 1,6 milhão de barris diários para uns 3 milhões - a capacidade estimada - e logo para 4,5 milhões, com base em antigas estimativas de que suas reservas sejam de 113 bilhões de barris. Se, como se acredita hoje, as reservas sejam, na verdade, de 250 bilhões de barris, a extrações poderiam ser de 10 milhões diários. Com a entrada no mercado desse petróleo iraquiano, o preço do barril baixaria, segundo especialistas, dos atuais US$ 28 para US$ 14.

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