Blair quer que ONU administre o Iraque pós-guerra

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Tendo insistido, sem sucesso, na aprovação de uma resolução do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas para legitimar uma guerra contra o Iraque e assumido, depois, um enorme risco político ao apoiar a decisão dos Estados Unidos de invadir o país para remover o regime de Saddam Hussein do poder, o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, tentará agora convencer o presidente George W. Bush da importância do envolvimento da ONU na administração do Iraque após o conflito. O líder inglês chegou hoje à noite à capital americana e foi direto para Camp David, o retiro presidencial nas montanhas de Maryland, onde deve passar o dia de amanhã reunido com Bush e com os membros de seu conselho de guerra, incluindo os secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, de Estado, Colin Powell, e com a assessora de segurança, Condoleezza Rice. "Posso garantir-lhe que é nosso desejo garantir que a ONU tenha um envolvimento central (no Iraque) e que isso é do interesse da comunidade internacional e das forças da coalizão (que trava a guerra)", afirmou o primeiro-ministro, antes de iniciar a viagem. O objetivo de Blair é persuadir Bush de que a maneira mais eficaz de estabilizar a situação no Iraque depois do conflito, organizar a ajuda humanitária e colocar o país num caminho que permita o surgimento de um governo próprio é instalar em Bagdá uma administração civil sob a bandeira das Nações Unidas, em lugar da administração americana prevista nos planos da Casa Branca. Diplomatas britânicos reconhecem que a tarefa é das mais difíceis. A aceitação da proposta do primeiro-ministro por Washington envolveria o reconhecimento do papel no Conselho de Segurança na legalização do governo que dará as ordens em Bagdá no imediato pós-guerra, apenas semanas depois de as autoridades americanas terem afirmado que a recusa do órgão da ONU em avalizar a invasão do Iraque foi uma comprovação de sua irrelevância. Vários fatores complicam a missão de Blair. A França e a Rússia já anunciaram que vetarão qualquer tentativa de validar um governo de ocupação americano no Conselho de Segurança. Há, por outro lado, uma intensa batalha política em curso no governo americano, sobre o pós-guerra. O grupo dos falcões, representado pelo vice-presidente Dick Cheney e por Rumsfeld, que apoiou desde o início da solução de força e tentou resistir ao envolvimento da ONU na fase preparatória da invasão, quer ver Washington no mando absoluto em Bagdá depois do colapso do regime de Saddam. Esta facção não admite a idéia de que, tendo faltado com o apoio que os EUA esperavam, a organização receba a incumbência de administrar um governo que sucederá o do ditador iraquiano. De acordo com fontes britânicas, os duros querem ver a participação da ONU limitada à organização e distribuição da ajuda humanitária. Powell, que saiu politicamente enfraquecido, em Washington, do embate no Conselho de Segurança, é mais sensível aos méritos da proposta de Blair. A duração e o custo da guerra, em vidas e em dólares, provavelmente determinarão o grau de influência dos dois grupos junto a Bush. A atitude da opinião pública americana, a necessidade de dividir com outras nações os custos da reconstrução do Iraque e a postura dos próprios militares americanos também pesarão no debate. Uma vitória rápida e total reforçará a posição dos falcões. Uma guerra mais longa e complicada abrirá mais espaço para os moderados. Blair, que viajou a Washington acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Jack Straw, encontra-se na sexta-feira, em Nova York, com o secretário geral da ONU, Kofi Annan, para discutir os planos de ajuda humanitária, que estavam a cargo da organização mundial antes de as bombas começarem a cair em Bagdá, na semana passada. Veja o especial :

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.