Blair quer Síria e Irã no processo de paz do Iraque

Premier inglês deve alertar sobre as conseqüências que os países vão sofrer caso não participem de um esforço conjunto para resolver a questão da violência no Iraque

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, pedirá na noite desta segunda-feira, em um discurso cujo conteúdo foi adiantado à imprensa, que o Irã e a Síria participem do processo de paz no Iraque e no Oriente Médio como um todo. Em um discurso sobre política externa em City of Londres, como é conhecido o centro financeiro da capital britânica, o líder trabalhista vai propor que os dois países, considerados por Washington como parte do "eixo do mal", sejam alertados sobre as conseqüências caso se neguem a participar de um esforço conjunto para tentar superar a onda de violência no Iraque. Em palavras claramente dirigidas a Washington, Blair deverá reiterar que não haverá paz na região enquanto o conflito entre Israel e os palestinos não for resolvido. O político britânico sabe que os europeus não podem fazer nada sobre o tema sem a colaboração dos Estados Unidos, que até agora se mostraram totalmente ao lado de Israel, para indignação dos que defendem que haja equilíbrio no tratamento do conflito. O discurso de Blair tem, por outro lado, um forte componente de política interna, ao ser feito um dia após a morte de quatro soldados britânicos na explosão de uma bomba enquanto viajavam pelo Chat el Arab, o rio formado pela confluência do Eufrates e do Tigre, na fronteira com o Irã. As novas mortes, que elevaram a 125 o número de baixas entre britânicos no país, deverão fazer com que se intensifiquem as pressões para que seja fixado um calendário para a retirada das tropas britânicas do Iraque, proposta à qual Blair se opôs até agora por considerá-la contraproducente. Um grupo de deputados de diferentes partidos, dirigido pelos nacionalistas escoceses e apoiado pelo ex-ministro conservador do Tesouro Kenneth Clark, apresentou uma emenda ao programa de Governo para a nova legislatura que será lido pela rainha Elizabeth II no chamado discurso da Coroa, na próxima sexta-feira. "Os responsáveis por este sangrento atoleiro têm a obrigação de nos dizer como se propõem a retirar nossos soldados", disse neste domingo um dos autores da emenda, o líder do Partido Nacionalista Escocês, Alex Salmond. A oposição liberal-democrata e até alguns deputados do próprio Partido Trabalhista expressaram indignação pelo fato de Blair ter se oferecido a depor na terça-feira no grupo de trabalho sobre o Iraque criado em Washington, enquanto impede que uma investigação sobre o conflito seja instaurada em seu próprio Parlamento. Blair responderá por videoconferência às perguntas que serão feitas pelo grupo, dirigido pelo ex-secretário de Estado americano James Baker, de quem se espera uma série de recomendações para o Iraque guiadas mais pelo pragmatismo do que pela cega ideologia dos chamados neoconservadores. A utópica idéia destes de que os Estados Unidos conseguiriam impor seu modelo de democracia e livre mercado no Iraque para depois estendê-lo por toda a região, onde as ditaduras cairiam uma após a outra como peças de dominó, se revelou totalmente equivocada, como já haviam previsto os especialistas do mundo árabe. Blair parece querer aproveitar agora os novos ventos que correm em Washington após a vitória democrata nas recentes eleições para o Congresso para contribuir ao que já se aponta como uma mudança de estratégia no Iraque. Mas, segundo o discurso desta noite, o líder trabalhista continuará defendendo uma forte aliança com os Estados Unidos porque, argumentará, "tanto o antiamericanismo como o euroceticismo não são apenas estúpidos, são ao mesmo tempo a via mais direta para a destruição de nosso próprio interesse nacional".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.