PUBLICIDADE

Blinken e Lavrov tentam manter via diplomática após troca de farpas no Conselho de Segurança da ONU

Responsáveis pelas Relações Exteriores de EUA e Rússia conversarão por telefone nesta terça-feira, horas depois de um dos encontros internacionais mais conflituosos em anos

Por Isabelle Khurshudyan e Rachel Pannett
Atualização:

KIEV - O secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, participarão de uma nova rodada de negociações nesta terça-feira, 1º, em uma tentativa de acalmar as tensões sobre a crise na Ucrânia, horas depois de diplomatas de EUA e Rússia trocarem farpas no Conselho de Segurança das Nações Unidas -  em um dos encontros internacionais mais conflituosos em anos.

PUBLICIDADE

A conversa por telefone será a mais nova tentativa diplomática destinada a evitar uma nova invasão da Ucrânia, desta vez pelos mais de 100 mil soldados fortemente armados que Moscou concentrou na fronteira do país. Líderes do Reino Unido, França, Holanda, Polônia, Turquia e Canadá estão na Ucrânia ou planejam visitar nos próximos dias.

“Continuamos a nos engajar em diplomacia ininterrupta e a diminuir as tensões e tentar melhorar a segurança de nossos aliados e parceiros e de toda a Europa", disse o presidente Joe Biden a repórteres na segunda-feira, 31.

Antony Blinken (E) e Serguei Lavrov (D) se cumprimentam durante encontro em Genebra. Foto: Alex Brandon/Pool via REUTERS (21/01/2022)

A conversa desta terça-feira entre Blinken e Lavrov provavelmente incluirá uma discussão sobre a resposta escrita de Moscou a uma proposta dos EUA destinada a diminuir a crise na Ucrânia. Uma autoridade dos EUA disse ao The Washington Post que o governo recebeu a resposta na segunda-feira, mas se recusou a fornecer detalhes.

Blinken descreveu a proposta dos EUA como algo que oferece ao Kremlin “um caminho diplomático sério, caso a Rússia o escolha”. Mas autoridades americanas disseram que o Ocidente não cedeu à exigência da Rússia de que a Otan encerre sua “política de portas abertas” e impeça que países como Ucrânia e Geórgia se juntem à aliança militar.

O Kremlin, que também exigiu a remoção das forças da Otan do Leste Europeu, negou repetidamente que seu acúmulo maciço de tropas e equipamentos militares perto da Ucrânia, juntamente com uma onda de exercícios militares, seja um precursor de um novo ataque.

Imagem de satélite mostra concentração de tropas russas próximaàfronteira entre Belarus e Ucrânia. Foto: Maxar Technologies via AP

Enquanto isso, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán se reunirá com o presidente russo Vladimir Putin em Moscou na terça-feira, em um encontro que será seguido de perto em Washington e outras capitais europeias.

Publicidade

Orbán, que lidera um Estado-membro da União Europeia e da Otan, está buscando aumentar as importações de gás da Rússia para a Hungria, mesmo quando alguns acusam Moscou de alimentar uma crise de energia para ganhar vantagem sobre os países europeus. Os dois líderes também discutirão “os problemas atuais de garantir a segurança europeia”, disse o Kremlin.

"Gostamos da abordagem independente da Hungria para garantir seus interesses e escolher seus parceiros", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na segunda-feira.

Orbán, considerado o aliado mais próximo de Putin na UE, tem se mantido quieto sobre o acúmulo de militares russos nas fronteiras da Ucrânia. Por meio de uma declaração no fim de semana, ele disse que é “a favor da paz e da desescalada”.

Os partidos de oposição da Hungria divulgaram uma declaração conjunta pedindo a Orbán que cancelasse sua viagem porque “nesta situação tensa, é simplesmente uma traição ir a Moscou”.

Orbán e Putin devem realizar uma coletiva de imprensa conjunta após a reunião, talvez marcando a primeira vez que o líder russo aborda a crise na Ucrânia em público desde 23 de dezembro.

Imagem de satélite mostra concentração de tropas russas próximaàfronteira entre Belarus e Ucrânia. Foto: Maxar Technologies via AP

Na sessão de abertura do Parlamento da Ucrânia na terça-feira, o presidente Volodimir Zelenski assinou um decreto para aumentar o tamanho das forças armadas do país em 100 mil nos próximos três anos. As forças ucranianas atualmente somam 250 mil.

"Este é o início da transição da Ucrânia para um Exército profissional", disse ele. "Este decreto não é porque a guerra está chegando - digo isso a todos - este decreto é para que em breve e no futuro haja paz na Ucrânia."

Publicidade

O ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, escreveu no Twitter na terça-feira que a Ucrânia recebeu um sexto avião de ajuda militar dos Estados Unidos com "84 toneladas de munição... e isso não é o fim", disse ele.

As forças armadas da Rússia anunciaram na segunda-feira que cerca de 9 mil soldados das bases militares do sul e do oeste estavam retornando aos quartéis após exercícios militares, mas não ficou claro se esses movimentos pressagiam uma redução da escalada. A Marinha russa também anunciou que 20 navios de guerra e outros navios de sua frota do Mar Negro retornaram ao porto após exercícios de tiro real.

Soldado ucraniano faz patrulha nos arredores de Avdiivka, front do conflito com separatistas pró-Rússia. Foto: EFE/EPA/STANISLAV KOZLIUK

Mas no mesmo dia, o Departamento de Estado ordenou que familiares de funcionários do governo deixassem Belarus por causa de atividades militares russas “incomuns e preocupantes” perto da fronteira com a Ucrânia. Os EUA já haviam retirado alguns funcionários governamentais da Ucrânia.

Os militares dos EUA emitiram ordens de “preparar para desdobrar” para 8.500 pessoas que provavelmente se dirigirão para a Europa Oriental - Biden descartou enviar tropas terrestres para a Ucrânia - embora o porta-voz do Pentágono John Kirby tenha dito a repórteres na segunda-feira que uma decisão final não foi tomada. .

Qualquer desdobramento seria feito em “consultas próximas” com aliados na região, disse Kirby. “Você não pode decidir unilateralmente lançar forças extras dos EUA em um país.”

A atividade diplomática com a Rússia provavelmente fará com que o Reino Unido assuma um papel reduzido. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson vai para a Ucrânia na terça-feira, no que Londres está chamando de uma “demonstração de apoio”. Ao mesmo tempo, ele teveque adiar uma ligação com Putin na segunda-feira, em meio às consequências da investigação sobre festas de Downing Street durante o lockdown no país.

Tanque russo dispara durante exercício militar perto da cidade Rostov, na fronteira com a Ucrânia Foto: AP

A secretária de Relações Exteriores britânica, Liz Truss, deveria acompanhar Johnson, mas disse na segunda-feira que contraiu covid-19, poucas horas depois de se dirigir ao Parlamento sobre duras sanções que visam os oligarcas russos e pessoas próximas a Putin. O Reino Unido se ofereceu no sábado para enviar jatos, navios de guerra e especialistas militares para apoiar o flanco leste da Otan.

Publicidade

À medida que o Ocidente apressa o apoio à Europa Oriental, Moscou também aumenta a atividade naval no Mediterrâneo e no Atlântico. O Pentágono disse que estava seguindo as manobras marítimas russas “bem de perto”, embora não pareça haver intenção hostil no momento.

A Rússia está "claramente aumentando as capacidades que eles têm no mar, caso precisem", disse Kirby, acrescentando que Putin "continua a criar mais opções para si mesmo do ponto de vista militar". "Queremos vê-lo exercer uma opção diplomática, que, aliás, também está aberta a ele.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.