Blinken promete recursos a nações que recebem venezuelanos e haitianos para conter imigração ilegal

Na Colômbia, secretário de Estado prometeu que os EUA darão prioridade para financiar projetos de infraestrutura na região, que sejam capazes de gerar emprego e oportunidades para os cidadãos

PUBLICIDADE

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla e Correspondente 
Atualização:

WASHINGTON - Diante da crise migratória enfrentada pelos Estados Unidos, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, pediu que países da região se engajem em uma ação rápida e coordenada para conter o que ele classificou como um "problema insustentável". Ao abrir uma conferência sobre o tema sediada em Bogotá, Blinken defendeu o envio de recursos a países que abrigam venezuelanos e haitianos e também prometeu que os EUA darão prioridade para financiar projetos na região que promovam crescimento econômico e empregos, para que as pessoas não precisem deixar seus países. 

PUBLICIDADE

"O problema, tal como está agora, é insustentável", disse Blinken. "Temos de lidar com isso rapidamente antes que se torne maior. E temos de lidar com isso de forma sustentável, para lidar de forma mais eficaz com a raiz da migração irregular, especialmente a falta de oportunidades econômicas", disse o americano. 

Desde outubro do ano passado, os EUA encontraram mais de 1,5 milhão de imigrantes tentando cruzar ilegalmente a fronteira do México com o país. O número saltou desde a posse de Joe Biden, visto como um presidente menos hostil à imigração do que o antecessor, Donald Trump. Um número recorde de brasileiros (quase 50 mil de outubro de 2020 a setembro de 2021), por exemplo, foi detido ao entrar nos EUA.

O presidente da Colômbia, Iván Duque (E), recebe o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em Bogotá Foto: Mauricio Dueñas Castañeda/EFE

"Temos de tomar medidas específicas e concretas que terão um efeito imediato para interromper o ciclo e desacelerar os números, para que a situação como um todo possa se tornar mais segura, mais ordenada e mais humana no curto prazo. E, criticamente, temos de tomar medidas que terão um efeito de longo prazo. É um teste para nossos governos. É um teste para nossa região", disse Blinken.

O evento entre chanceleres da região foi sediado pelo governo da Colômbia, que recebeu a visita do americano nesta quarta-feira. Ministros dos demais países, incluindo o chanceler brasileiro, Carlos França, participaram virtualmente. 

Na terça-feira, Blinken telefonou para França. Segundo o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, no telefonema, o americano "reconheceu a liderança do Brasil na assistência a populações vulneráveis de imigrantes, incluindo haitianos e venezuelanos".

"Eles debateram mais colaboração para deter o fluxo descontrolado de imigração irregular na região", disse Price. Em setembro, quando os dois se encontraram em Nova York durante a Assembleia-Geral da ONU, Blinken chegou a pedir a França que o Brasil recebesse parte dos imigrantes haitianos que chegaram em massa aos EUA pela fronteira com o Texas.

Publicidade

Apenas a abertura do evento em Bogotá, quando aconteceram os pronunciamentos de Blinken e do presidente da Colômbia, Iván Duque, foi transmitida. Os debates entre ministros -- e o pronunciamento de França -- foram realizados sem transmissão pela internet. 

"Essa não é uma conferência menor. Esse precisa ser o ponto para uma ação coordenada e rápida", disse Duque, ao abrir a Conferência e defender sua política de autorização de permanência por dez anos para o grupo de 1,8 milhão de venezuelanos que migrou para a Colômbia. 

Blinken, por sua vez, defendeu que a política para conter o fluxo migratório tenha quatro eixos. O primeiro é de ação imediata. Para isso, defendeu a adoção de visto para controle de viajantes a países que sirvam de passagem para imigrantes. Na semana passada, o governo mexicano anunciou que irá voltar a exigir visto de passageiros brasileiros, o que foi lido pelo Itamaraty como um efeito da pressão dos americanos.

Ele também pediu que o processamento de pedidos de asilo seja mais rápido e que os países facilitem a repatriação de seus cidadãos. No caso do Brasil, o governo americano chegou a pleitear a autorização para enviar três voos semanais com deportados. Até o momento, o governo brasileiro autorizou a aterrissagem de duas aeronaves por semana.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

O segundo pilar da política defendida por Washington é a proteção aos mais vulneráveis, como vítimas de tráfico. Em terceiro lugar, o americano afirmou que a situação de venezuelanos e haitianos é especialmente crítica e defendeu o envio de recursos para as comunidades em toda a região que hospedam imigrantes e refugiados da Venezuela e do Haiti.

Ao finalizar seu discurso, o americano defendeu que os países pensem na raiz do problema de imigração. "Todos nós sabemos que existem muitos fatores que levam as pessoas a decidirem por migrar, esses fatores podem ser complexos, mas muitas vezes se resumem a um motivo profundo, que é a falta de esperança de que a vida em seus países de origem vai melhorar", disse.

Por isso, Blinken prometeu que os EUA darão prioridade para financiar projetos de infraestrutura na região, que sejam capazes de gerar emprego e oportunidades para os cidadãos. "Fizemos nossa primeira viagem de escuta no mês passado ao Equador, à Colômbia e ao Panamá, para iniciar conversas sobre projetos em potencial", disse.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.