Blix resiste à pressão e complica estratégia de Bush

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Por Agencia Estado
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O chefe dos inspetor de armas das Nações Unidas, Hans Blix, informou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que não encontrou nenhum indício de que o Iraque possua armas de destruição em massa. Ele criticou "omissões e violações" de Bagdá na declaração de armas proscritas que apresentou à ONU, conforme estipulado pela resolução 1.441, aprovada em 8 de novembro passado. Mas ficou longe de fazer a condenação clara da atitude do regime de Saddam Hussein em relação às inspeções, o que era esperado pelos Estados Unidos. A avaliação de Blix foi reforçada por Mohamed El-Baradei, o encarregado de inspecionar armas nucleares. ?Até hoje não encontramos indícios de atividades nucleares ou correlatas no Iraque?, afirmou. A mais séria violação apontada por Blix diz respeito a dois tipos de mísseis que Badgá desenvolveu e que, segundo o inspetor de armas, foram testados além do raio de 148 quilômetros permitido pelos termos de rendição que a ONU impôs ao Iraque depois da Guerra do Golfo, em 1991. Ele disse também que o Iraque omitiu dados necessários para contabilizar os estoques de antraz, do agente VX e de mísseis de longo alcance que o país sabidamente possuiu e declarou no passado. Os dois inspetores de armas pediram mais cooperação de Bagdá. Mas, numa clara demonstração da pressão que a administração Bush fez sobre Blix para que ele apresentasse conclusões que justificassem o uso da força para desarmar o Iraque, o ex-diplomata sueco, de 74 anos, colocou em dúvida a validade de supostas provas contra o Iraque obtidas por satélites espiões americanos, que o secretário de Estado Colin Powell apresentou no último dia 5 ao Conselho de Segurança. "O alegado movimento de munição no local poderia tanto ser uma atividade de rotina como um movimento de munições proscritas na expectativa de uma inspeção iminente", disse Blix, referindo-se a duas imagens de satélites que o secretário de Estado americano exibiu. Mais curto e menos negativo para o Iraque do que o primeiro relatório que apresentou, no final de janeiro, a declaração de Blix complicou o plano do governo americano de usar seu relatório como argumento para propor uma resolução declarando o regime de Saddam Hussein "em violação da resolução 1.441" e abrir o caminho para obter o selo de aprovação da ONU e legitimar uma solução militar. Dez dos quinze países membros do Conselho estavam representados por seus ministros das Relações Exteriores. Em Washington, o presidente George W. Bush sinalizou mais uma vez que já tomou a decisão de ir à guerra contra Saddam. Falando durante visita à sede do FBI, o líder americano afirmou que Saddam Hussein "será desarmado, de um jeito ou de outro". Para não deixar dúvida sobre sua determinação de usar a solução militar, ele adiantou que, se der a ordem de invasão do Iraque, as forças americanas atacarão usando "cada grama de sua engenhosidade e tecnologia para vencer e evitar baixas na população civil". Evitar tais baixas será um considerável desafio, se a realidade confirmar que o plano desenvolvido pelo Pentágono prevê lançamento de algo entre 300 e 400 mísseis sobre Bagdá em cada um dos primeiros dois dias do ataque. Visivelmente frustrado, Powell disse que o Iraque está tentando enganar a ONU e insistiu que o país deve continuar sob a ameaça da força para cumprir com as ordens do Conselho de Segurança e revelar as armas de destruição em massa que está escondendo. Ele ponderou que, a bem de sua própria credibilidade, o Conselho de Segurança não pode permitir que o processo de inspeção se prolongue indefinidamente. "A resolução 1.441 não trata de inspeção, trata do desarmamento do Iraque", afirmou Powell. Numa frase que representa um recuo em relação a declarações anteriores, o chefe da diplomacia americana disse que o Conselho de Segurança precisa "continuar a exigir o desarmamento, a pressionar e a garantir que a ameaça do uso da força não seja removida". Apenas a Espanha apoiou a posição americana. Os chanceleres da França, da China e da Rússia - países que têm poder de veto no Conselho -, insistiram na continuação das inspeções. Os demais países, entre eles o México, ficaram em cima do muro. O francês Dominique de Villepin disse que os inspetores precisam de mais tempo, ecoando uma posição compartilhada pela maioria da opinião pública americana, segundo sondagens publicada hoje pelo New York Times. "O uso da força não é justificado neste momento e existe uma alternativa à guerra: desarmar o Iraque por meio das inspeções", afirmou. Villepin propôs que o Conselho de Segurança reúna-se novamente dentro de um mês, para ouvir novo relatório de Blix. Meados de março é o prazo limite para os americanos desencadearem um ataque, com ou sem o endosso da ONU, segundo especialistas americanos. Igor Ivanov, da Rússia, observou que "o processo de inspeções está caminhando na direção correta ". Ele acrescentou que "a força pode ser o último recurso, mas só depois de esgotados todos os outros remédios". O ministro das Relações Exteriores da China, Tang Jiaxuan , também defendeu que se dê mais tempo para as inspeções. Os defensores de uma solução negociada terão sua posição reforçada neste fim de semana por gigantescas manifestações populares contra a guerra, marcadas para todas as grandes capitais do mundo.

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