Bloco sunita denuncia legislação para dividir o Iraque

Lei criaria região xiita no sul, semelhante à zona de governo curdo no norte; sunitas se opõem ao plano, que os deixaria com o centro, um deserto sem reservas de óleo

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Por Agencia Estado
Atualização:

O principal bloco político árabe sunita boicotou o parlamento neste domingo para protestar contra a legislação apoiada por árabes xiitas e curdos que dividiria o Iraque em uma federação de três estados autônomos. A informação foi publicada na edição online do jornal americano The Washington Post A lei criaria uma região predominantemente xiita no sul do Iraque, semelhante à grande zona independente, hoje governada pelos curdos no norte. Os sunitas fazem forte oposição ao plano, que os deixaria com o centro do país, um vasto deserto sem as reservas de óleo presentes nas outras regiões. "Chamo todo o povo do Iraque - curdos, árabes, turcos, muçulmanos, ou não muçulmanos - a se levantar conosco contra o projeto federalista", disse Adnan al-Dulaimi, líder da Frente de Acordo Árabe, principal bloco sunita, em conferência televisionada. A nova constituição iraquiana, aprovada pelos votantes na última primavera, inclui uma cláusula que permite a criação de regiões autônomas. Os sunitas apoiaram de forma relutante o documento, acreditando que a questão do federalismo seria reexaminado pelo parlamento. Membros sunitas do parlamento dizem que se sentem traídos, agora que Abdul Aziz al-Hakim, líder do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica, poderoso partido político xiita, pressiona a legislação que daria os primeiros passos em direção ao federalismo. Analistas dizem que Hakim espera se tornar líder da região xiita ao sul, que compreende nove províncias. Os curdos apóiam fortemente a legislação. "Nós mesmos temos uma região federal, e queremos mais autoridade para nossa região federal", afirmou Mahmoud Othman, membro curdo do parlamento, em entrevista por telefone. "Então não fazemos objeção a outros terem o mesmo direito", acrescentou. Compromisso Mahmoud al-Mashhadani, porta-voz do parlamento, disse em entrevista ter reunido os líderes de todos os partidos políticos para conseguir um compromisso para que a lei federalista e uma emenda constitucional com o objetivo de repelir a cláusula federalista possam ser consideradas ao mesmo tempo na semana que vem. Mas dois grupos sunitas, a Frente de Acordo do Iraque e a Frente Nacional do Diálogo do Iraque, rejeitaram o acordo e anunciaram um boicote. A eles se uniram a Lista Nacional do Iraque, partido secular liderado pelo ex-premiê Ayad Allawi, e políticos xiitas que normalmente apóiam o partido de Hakim, mas se opõem ao federalismo. "Primeiro nós deveríamos introduzir as emendas na constituição, aí poderemos nos direcionar para a questão do federalismo e estabelecimento de regiões", disse Dulaimi. Apoiadores do federalismo disseram que o boicote seria uma tática para prevenir a criação das regiões autônomas. "Estão tentando atrasar toda a questão", disse Othman. Violência Enquanto isso, a violência sectária continua por todo o país. Ao menos 29 pessoas morreram ou foram encontradas mortas nesta segunda-feira, segundo a agência Associated Press. No domingo à noite, um soldado americano morreu em combate no norte de Bagdá. Funcionários do ministério do Interior disseram ter matado três membros da organização Al-Qaeda no Iraque no domingo, em Bagdá. Eles disseram que os três promoveram ataques há duas semanas que mataram mais de 70 pessoas na área da capital de Nova Bagdá.

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