PUBLICIDADE

Blog sugere que fotos de Qana são propaganda; agências rejeitam acusação

Para o site conservador, imagens foram manipuladas para "maximizar" o sofrimento dos libaneses e ganhar pontos na batalha de relações públicas contra Israel

Por Agencia Estado
Atualização:

Estava estampado na capa dos principais jornais na manhã de segunda-feira, dia 31 de julho: "Ataque a vila libanesa de Qana deixa mais de 50 mortos; a maioria crianças". Junto com os textos, fotos em que supostos membros das equipes de resgate libanesas e da Cruz Vermelha aparecem carregando crianças vítimas do ataque israelense. Imagens que impactaram em todo o planeta, e obrigaram Israel a cancelar temporariamente sua campanha aérea contra alvos da guerrilha xiita Hezbollah. Uma vitória para o processo de paz, poderia ter sido dito, não fosse alguns detalhes levantados pelo blog britânico de orientação conservadora EU Referendum (veja link ao lado), conhecido por suas críticas à União Européia. Para os editores do site, a exibição excessiva das imagens pela mídia mundial é parte de uma "guerra de propaganda" contra a ofensiva israelense no Líbano. Não se trata, no entanto, de mais uma teoria da conspiração. Ao menos é o que tenta argumentar o blog ao sustentar que parte significativa das imagens publicadas nas capas dos principais jornais foram manipuladas para "maximizar" o sofrimento dos libaneses e ganhar pontos na batalha de relações públicas contra Israel. Para defender esse ponto de vista, o EU Referendum destaca a presença constante de um suposto membro das equipes de resgate (o homem com capacete verde da foto acima) que aparece na maioria das fotos "posando" com as crianças mortas. Para provar sua teoria, o blog relaciona as fotos tiradas pelas agências Reuters, Associated Press e France Presse entre si e as comparam a partir do horário em que supostamente teriam sido tiradas. A conclusão do EU Referendum é de que as mesmas crianças mortas aparecem em imagens com horários totalmente distintos. Por exemplo: em uma das fotos da Reuters, tirada às 14h21, o homem do capacete verde aparece "retirando" uma criança dos escombros. A mesma criança, no entanto, aparece nas mãos do "capacete verde" em uma foto da AP cujo horário de captação, segundo o blog, é 12h53. Ou seja, segundo a argumentação do EU Referendum, ele não poderia ter tirado a criança dos escombros às 14h21 se o mesmo menino estava em suas mãos às 12h53. Repercussão A repercussão da polêmica levantada pelo blog foi tão forte que na terça-feira a AP publicou um artigo contestando os argumentos do EU Referendum. Todos os editores das agências ouvidos pela reportagem negaram prontamente os argumentos do site, e explicaram que os horários que acompanham as fotos poderiam se referir ao momento em que foram publicadas, e não em que foram tiradas. "É difícil imaginar como alguém sentado em um escritório com ar-condicionado a milhares de quilômetros de distância da cena possa dizer o que tenha acontecido ali", disse a vice-presidente da AP, Kathleen Carroll. Ainda segundo ela, os fotógrafos costumam saber quando alguém está tentando fingir algo em benefício próprio. De acordo com artigo da AP, há muitas razões para que conclusões não sejam tiradas a partir do horário de publicação das imagens. Isso porque em um evento como esse, as agências não distribuem as fotos seqüencialmente, e sim de acordo com seu valor enquanto notícia e o quão rápido ficam a disposição do editor que as retransmitem. As insinuações do EU Referendum também foram rejeitadas pelo blog do jornalista britânico Roy Greenslade (veja link ao lado), hospedado no site do jornal The Guardian - um dos diários que estamparam uma das fotos com o "capacete verde" em sua capa. Para Greenslade, é preocupante o fato do "blog estar ganhando a atenção de teóricos da conspiração direitistas nos Estados Unidos (e provavelmente em todo o mundo)". "Qualquer jornalista profissional sabe que as figuras não foram posadas. Meu conselho aos editores do site é que permaneçam fazendo o que sabem melhor: entoar baboseiras contra a União Européia", conclui Greenslade.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.