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Blogueira é presa por autoridades de Cuba

Yoani Sánchez foi detida em Bayamo, onde pretendia cobrir julgamento de espanhol

Por BAYAMO e CUBA
Atualização:

A blogueira cubana Yoani Sánchez, que assina uma coluna aos domingos no Estado, foi presa no fim da tarde da quinta-feira em Bayamo, no leste de Cuba, quando chegava à cidade para cobrir o julgamento do espanhol Ángel Carromero - que responde pelo homicídio culposo (sem intenção) dos dissidentes Oswaldo Payá e Harold Cepero, mortos em 22 de julho, quando o carro conduzido pelo estrangeiro bateu contra uma árvore. O marido de Yoani, Reinaldo Escobar, e o jornalista independente Agustín Díaz também foram detidos. Segundo o dissidente Elizardo Sánchez, presidente da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), o trio chegava à cidade quando seu veículo foi abordado pelas autoridades. "Eles devem ser soltos após o julgamento", afirmou ao Estado o ativista, contando que outros seis opositores foram presos em Bayamo nas 48 horas que antecederam a audiência do processo contra Carromero.O jornal espanhol El País, veículo que tem Yoani como colaboradora, confirmou em seu site que a blogueira viajava a Bayamo com a intenção de cobrir o julgamento de Carromero.Dois blogueiros governistas revelaram as prisões de Yoani e seu marido. Segundo Yoahandry Fontana, que costuma obter informações com o governo cubano, a jornalista independente viajou a Bayamo, a 750 quilômetros de Havana, onde vive, "para tentar (realizar) uma provocação e um show midiático que prejudicaria o bom desenvolvimento do julgamento do espanhol."Yunior García Ginarte, jornalista de uma TV estatal com base na cidade, afirmou no microblog Twitter que Yoani "viajou a Bayamo para (dar) um show provocativo e prejudicar o julgamento de Carromero". "Ele está detida pelas autoridades locais."Segundo os blogueiros governistas, Yoani e o marido foram transferidos durante a tarde para Havana.O celular da opositora ficou completamente fora do ar ontem. Seu último tuíte, que incluiu uma foto da estrada a Bayamo, foi postado às 12h22 da quinta-feira. Segundo a CCDHRN, Yoani falou com um parente após ser detida, a quem confirmou estar em um centro policial de Cuba. Autora do blog Generación Y e ganhadora de diversos prêmios internacionais de jornalismo e defesa dos direitos humanos, Yoani tem denunciado na internet detenções relâmpago de diversos dissidentes nos últimos tempos.Repercussão. Entidades de defesa da liberdade de imprensa e a Anistia Internacional protestaram contra a prisão de Yoani (mais informações nesta página).O governo dos Estados Unidos afirmou estar "profundamente preocupado" pelas "detenções arbitrárias". "Estamos profundamente preocupados pelo uso repetido por parte do governo cubano de detenções arbitrárias para silenciar os críticos, interromper o direito a reunião e para impedir o jornalismo independente", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado americano Mark Toner em uma entrevista coletiva. "Está muito claro que a situação dos direitos humanos em Cuba continua má", disse o funcionário do governo americano, mencionando, além de Yoani e Escobar, a mais recente detenção do dissidente Guillermo Fariñas, que foi preso com outros 41 opositores que planejavam realizar uma reunião nesta semana - todos já tinham sido libertados ontem. A Itália também manifestou preocupação com a prisão de Yoani. O ministro de Relações Exteriores, Giulio Terzi, afirmou ter pedido à embaixada italiana em Havana que "acompanhe a evolução do caso".Detenções. O governo de Raúl Castro tem detido opositores às vésperas de manifestações e eventos públicos. Em março, mês em que o papa Bento XVI visitou Cuba, a dissidência cubana registrou o ápice deste tipo de prisão desde 2010 - segundo a CCDHRN, 1.158 opositores foram detidos. No mês anterior, 604 tinham sido detidos. Em janeiro, quando a presidente brasileira, Dilma Rousseff visitou a ilha, foram registradas 631 prisões relâmpago, ainda segundo os dados da entidade dissidente.Julgamento. Na audiência judicial em Bayamo, Carromero reconheceu que perdeu o controle do carro que, além dele e os mortos no acidente, levara ainda o sueco Jens Aron Modig. O espanhol negou, porém, que estivesse dirigindo em excesso de velocidade - rechaçando a acusação do Ministério Público da ilha. / AP, AFP, COM GUILHERME RUSSO

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