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Bloomberg tem estreia morna nos debates democratas  

Nenhum dos candidatos presidenciais democratas parece capaz ou preparado para evitar o triunfo de Bernie Sanders

Por The Economist
Atualização:

LAS VEGAS - Em certo sentido, os debates políticos são efêmeros. Seis candidatos democratas se enfrentaram em Las Vegas no dia 19 de fevereiro — o nono debate antes da preliminar de Nevada no dia 22 de fevereiro. Eles voltarão a se confrontar no dia 25, antes das primárias da Carolina do Sul e da Superterça, quando um grande número de delegados será decidido.

Mas alguns debates são mais importantes do que outros, e o de Las Vegas ocorreu em um momento relevante da campanha democrata para escolher um candidato que vai desafiar Donald Trump.

Michael Bloomberg (E), Elizabeth Warren (C) e Bernie Sanders Foto: Erin Schaff/The New York Times

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Depois que Bernie Sanders venceu em Iowa e New Hampshire, cultivando uma vantagem expressiva diante de uma concorrência numerosa, muitos democratas passaram a temer que a escolha de um autodeclarado socialista possa lhes custar a eleição e a maioria na Câmara. 

Assim, em Las Vegas, todas as atenções estavam em Mike Bloomberg, bilionário e ex-prefeito de Nova York que vem reduzindo a distância em relação a Sanders nas pesquisas eleitorais por meio de uma campanha publicitária relâmpago paga do próprio bolso.

Bloomberg não está entre as alternativas em Nevada — sua participação começará na Superterça. Mas, em Las Vegas, ele subiu ao palco da campanha pela primeira vez. As perguntas vieram: como seria o desempenho dele, e como seria a reação dos demais candidatos à sua presença?

Elizabeth Warren respondeu à segunda pergunta, criticando Bloomberg por seus comentários machistas. Mais tarde, ela pressionou Bloomberg a desobrigar das cláusulas de confidencialidade das ex-funcionárias de suas empresas. Bloomberg se recusou a fazê-lo, dizendo: “Talvez não tenham gostado de uma piada que fiz”, e, finalmente, que esses acordos “foram feitos consensualmente”, e não seriam desconsiderados de sua parte. Uma resposta presunçosa, enigmática e indiferente.

Debates não são o ponto forte de Bloomberg. Não é exatamente carismático, e deve ser o 12.º homem mais rico do mundo, fundador de uma das empresas de mídia e finanças mais conhecidas do planeta. Com isso, raramente encontra quem discorde dele. Ainda assim, sua falta de tato ao responder a uma pergunta tão previsível foi surpreendente. Ao longo da noite, porém, seu desempenho melhorou. 

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A resposta ao ser questionado a respeito da política de policiamento de revistas constantes, implementada quando era prefeito – outro ataque previsível – foi muito defensiva. Mesmo assim, foi o único candidato no palco que trocou golpes com Sanders.

Nenhum dos dois fez o outro perder o equilíbrio – ambos têm confiança de sobra – e o enfrentamento em Nevada pode ter sido o presságio do restante da campanha das primárias.

Estranhamente, Bloomberg também pareceu relutante em exaltar o que fez: o histórico de generosas doações a causas e candidatos liberais, o longo ativismo contra a mudança climática e as iniciativas filantrópicas. Ofereceu respostas padrão, quando seu currículo ambiental é muito mais substancial que seus adversários.

Suas declarações finais deixaram claro que ele enxerga a presidência essencialmente como um cargo administrativo. É óbvio que esse é um de seus aspectos, mas não o único. Espera-se dos presidentes que inspirem, liderem e definam o tom do país. 

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Talvez haja um grande número de americanos ansiosos pela competência silenciosa a ponto de optarem por um tecnocrata, deixando o púlpito dos valentões desocupado por algum tempo. Bloomberg foi um alívio para muitos nova-iorquinos após a gestão a agressiva de Rudy Giuliani. Mas ajudaria se ele demonstrasse mais agilidade (ou fosse melhor preparado pela equipe de debates).

Visões ousadas

Sanders oferece uma visão muito diferente da presidência, a de “intimidador-chefe”. Como de costume, apresentou visões ousadas, sem nenhum indício de como as realizaria, a não ser gritando mais alto. Sanders nunca encontrou um problema complexo para o qual não houvesse uma explicação simples – Ganância! Corrupção! Bilionários! É uma forma de trumpismo de esquerda. Mas nenhum dos rivais encostou um dedo nele. Pete Buttigieg e Amy Klobuchar foram no pescoço um do outro.

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Quando Buttigieg a pressionou por ter esquecido o nome do presidente do México, ela perdeu a calma: “Está tentando dizer que sou burra?” 

Warren distribuiu ataques contra todos, menos Sanders. Houve um momento até em que ela pareceu disposta a enfrentá-lo. Disse que os democratas desejam alguém capaz de derrotar Trump, mas temem “apostar em uma revolução”.

Ainda assim, faltam mais de cinco meses para a convenção democrata. Manter uma campanha em funcionamento por tanto tempo custa caro, e captar dinheiro para uma tentativa de triunfar em uma convenção disputada é uma proposta difícil de vender. Isso ajuda Bloomberg, que paga as próprias despesas. Parece que a disputa será longa, e talvez os democratas tenham de escolher entre um socialista e um plutocrata. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL  © 2019 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO  ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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