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Bloqueio de França, Alemanha e Bélgica põe Otan em crise

Por Agencia Estado
Atualização:

França, Alemanha e Bélgica bloquearam hoje o planejamento de ajuda militar à Turquia pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), no caso de ser lançada uma guerra ao Iraque. Os EUA pretendem usar bases turcas em um eventual ataque ao território iraquiano, com o qual a Turquia faz fronteira. A reunião de emergência, na sede da Otan, em Bruxelas, foi convocada depois que o governo turco invocou o artigo 4 da aliança atlântica, que estabelece o compromisso de defesa mútua de seus 19 membros. Os três países dizem se opor ao envio de baterias antimísseis e deslocamento de material bélico, entre outros planos de defesa, enquanto não tiver sido esgotada a possibilidade de uma saída diplomática. Falando à rádio francesa Europa 1, o chanceler belga, Louis Michel, ressaltou que fazer tais planos agora implicaria aceitar "a lógica da guerra", num momento em que há chance de resolver o conflito pacificamente. Enquanto o secretário-geral da Otan, o britânico George Robertson, definia o clima na reunião como "quente", o embaixador americano na Otan, Nicholas Burns, acusava as três nações européias de terem mergulhado a organização numa "crise de credibilidade". Horas depois, porém, o secretário americano da Defesa (Pentágono), Donald Rumsfeld, fez um comentário mais moderado e garantiu que a Turquia terá proteção, dentro ou fora do âmbito da Otan. "No momento, isso significa que três países europeus estão isolados do restante da aliança da Otan", disse Rumsfeld. "São três países. Há 19 países na Otan. Portanto, são 16 a 3", comentou em uma entrevista à imprensa em Washington. "Acho que isso (o bloqueio) é um erro. E o que temos de fazer pelos EUA é nos certificarmos de que o planejamento seguirá adiante, preferencialmente dentro da Otan. Senão, bilateralmente, ou em múltiplas ações bilaterais." O artigo 4 do tratado de defesa mútua estabelece que todos os 19 membros da Otan devem manter consultas quando um deles perceber uma ameaça a sua integridade territorial, independência política ou segurança. Em 53 anos de história da organização, esta é a segunda vez em que um membro recorre a essa cláusula - na primeira vez, também foi a Turquia quem a invocou, em conversações militares confidenciais durante a Guerra do Golfo (1991). Dos 19 membros da Otan, a Turquia é o único que faz fronteira com o Iraque. "Acho lamentável que eles estejam em completo desacordo com o restante dos aliados da Otan", complementou Rumsfeld. "Mas não é toda vez que todo mundo vai entrar em acordo em tudo." Os debates na Otan serão retomados amanhã, mas autoridades francesas já adiantaram que não vêem motivo para mudar de posição, pelo menos até sexta-feira. A divisão na Otan ocorre numa semana crucial para a crise iraquiana: na sexta-feira, os chefes dos inspetores de armas da ONU apresentarão ao Conselho de Segurança (CS) um segundo e decisivo relatório sobre seu trabalho no Iraque e a cooperação do governo iraquiano. O veredicto pode abrir caminho para os EUA declararem guerra ao Iraque, por intermédio de uma nova resolução do CS, ou unilateralmente.

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