PUBLICIDADE

Bloqueios israelenses arrasam economia de Gaza

Restrições já causaram fechamento de 95% das indústrias e 79% do 1,5 milhão de moradores vivem na pobreza

Foto do author Angela  Perez
Por Angela Perez
Atualização:

A situação na Faixa de Gaza é desesperadora e o território já vive uma crise humana, alertam especialistas. "Quantas pessoas mais têm de morrer por falta de tratamento, antes que o mundo acredite que há uma crise?", disse ao Estado Rashid Khalidi, especialista em Oriente Médio da Universidade Colúmbia, em Nova York. Na terça-feira, atendendo à intensa pressão internacional, Israel suspendeu temporariamente o bloqueio ao território palestino, permitindo a entrada de combustível, alimentos, remédios e gás de cozinha. Mas advertiu que manterá suas fronteiras com Gaza fechadas enquanto militantes continuarem disparando foguetes contra cidades israelenses. Militantes do Hamas destruíram na quarta-feira vários trechos da barreira fronteiriça com o Egito e centenas de milhares de moradores de Gaza correram para comprar suprimentos. O Egito permitiu a entrada, mas avisou que a passagem era temporária e começou na sexta-feira a fechá-la. Segundo especialistas, o novo bloqueio israelense intensificará a crise em Gaza, que já sofre as conseqüências das restrições anteriores impostas por Israel e do embargo econômico da comunidade internacional desde que o grupo radical islâmico Hamas tomou o controle do território, em junho, expulsando as forças de segurança ligadas ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas. "A situação em Gaza é devastadora e Israel, que controla o ar, o mar e o direito de ir e vir em Gaza, tem grande responsabilidade", disse ao Estado Fawaz Gerges, especialista em Oriente Médio da Universidade Sarah Lawrence, em Nova York. "Mas o Hamas também é culpado, por militarizar a política palestina." Para Sara Roy, da Universidade Harvard, o empobrecimento em Gaza não é acidental, mas deliberado, resultado das contínuas restrições impostas por Israel, como no início da segunda intifada (levante palestino), em setembro de 2000; após a vitória do Hamas nas eleições palestinas, em janeiro de 2006; e depois de o grupo radical tomar o controle do território. Segundo a especialista, a política de fechamento de fronteiras tornou-se destrutiva porque os 30 anos de processo de integração da economia de Gaza à de Israel deixaram a economia local profundamente dependente. Décadas de expropriação e desinstitucionalização tiraram dos palestinos seu potencial de desenvolvimento, impedindo o surgimento de uma estrutura econômica viável, diz Sara em um relatório sobre a situação de Gaza. As sanções internacionais também tornaram o território extremamente dependente da ajuda externa. Segundo o Escritório Central de Estatísticas Palestinas, 79% do 1,5 milhão de palestinos em Gaza vivem na pobreza e a ONU distribui alimento para 860 mil deles. Na semana passada, as agências internacionais pediram aos países doadores US$ 462 milhões de ajuda aos palestinos de Gaza e da Cisjordânia. As restrições econômicas e os constantes bloqueios resultaram no fechamento de indústrias, no elevado desemprego e na drástica queda das exportações, principalmente de produtos agrícolas, para Israel e outros países. Segundo o Banco Mundial, citando números da Associação de Indústrias de Gaza, em junho de 2005, antes da retirada israelense, havia 3.500 indústrias no território palestino. Dois anos depois, esse número caiu para 780 e em dezembro, para 195. Havia 35 mil palestinos de Gaza empregados na área industrial em junho de 2005 e 4.200 em julho de 2007. Em dezembro, eram apenas 1.750. Segundo a Federação de Indústrias de Gaza, o atual regime de fechamento de fronteiras e as restrições a importações e exportações levaram à suspensão de 95% das atividades industriais no território. Empresários e políticos palestinos advertem que foram causados danos irreparáveis à economia local. Amr Hamad, presidente da Federação de Indústrias de Gaza, diz que, mesmo se as fronteiras com Israel fossem abertas amanhã para a passagem de produtos, a maioria das indústrias não se recuperaria. Segundo ele, os importadores israelenses perderam a confiança em Gaza. A maioria das indústrias locais produzia para exportação e tinha contrato com empresas israelenses. Quase 80% da produção de móveis, 90% da de roupas e 20% da agrícola era exportada para Israel.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.