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Boicote à posse de Macri hoje acelera divisão de bancada kirchnerista

Decisão da maior bancada do Congresso de não comparecer à cerimônia é sinal de radicalização e de deserções que podem beneficiar presidente eleito

Por Rodrigo Cavalheiro
Atualização:

A decisão da maior bancada do Congresso argentino de boicotar a posse de Mauricio Macri ao meio-dia de hoje é sinal de uma radicalização que paradoxalmente pode beneficiar o novo presidente, por vir acompanhada de deserções. A medida foi anunciada ontem por parlamentares fiéis a Cristina Kirchner, que deixa a Casa Rosada após dois mandatos.

O confronto aberto, em princípio, seria prejudicial para Macri, uma vez que sua coalizão, a Cambiemos, tem apenas 90 dos 257 deputados e ele precisa aprovar mudanças econômicas urgentes com ajuda kirchnerista, que tem 117 cadeiras. 

Macri quer terceirizar gestão de sua fortuna Foto: ENRIQUE MARCARIAN/REUTERS

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Somados os votos de todos os partidos na oposição, o novo líder conseguiria maioria simples na Câmara. Macri tem promessa de apoio, pelo menos no início do mandato, dos deputados que seguem o peronista dissidente Sérgio Massa – 36 cadeiras. 

No Senado, entretanto, a Frente para a Vitória, coalizão chefiada por Cristina e derrotada com Daniel Scioli, aumentou seu domínio e tem 42 dos 72 assentos. Isso obrigará o futuro presidente a buscar votos na nova oposição, o que parecia difícil com o kirchnerismo coeso.

A radicalização dos políticos mais próximos a Cristina tende a beneficiar Macri porque nem todos os integrantes do peronismo (do qual o kirchnerismo é uma corrente) estão convencidos a continuar seguindo a presidente – um emissário de Cristina anunciou, na terça-feira, que ela não iria à posse hoje. “Comparando a um casamento, estamos num momento em que saberemos se o matrimônio se manterá ou haverá um divórcio”, disse o sociólogo Ricardo Rouvier.

 A discussão sobre o lugar e a forma da cerimônia – Cristina queria passar a faixa no Congresso e Macri, na Casa Rosada – parece ter precipitado a cisão de forças heterogêneas que compõem a base da ex-presidente, que deixou o poder à meia-noite de ontem por uma inédita ação judicial pedida por Macri. Ele temia alguma surpresa durante a manhã de hoje, antes de fazer o juramento. Ele receberá a faixa e o bastão presidencial de Federico Pinedo, correligionário que estará no comando do Senado. 

A deserção começou com um grupo de deputados da Província de Salta, que desafiou a chefe e prometeu comparecer à cerimônia. Em seguida, uma lei que Cristina queria ver aprovada no Senado ainda ontem não contou com quórum de seus próprios integrantes, numa votação considerada fácil.

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Boa notícia. Uma das principais preocupações de Macri, além da governabilidade, é cumprir a promessa de liberar o câmbio, controlado pelo Banco Central desde 2011. Ele não conseguiria começar o processo se o kirchnerista Alejandro Vanoli permanecesse no comando da instituição até 2019. Pressionado por uma ação judicial iniciada pelo grupo de Macri, Vanoli apresentou ontem sua renúncia. O escolhido para a função é o economista Federico Sturzenegger. 

Além de ter alguém de confiança à frente do BC, Macri precisará incrementar as reservas em dólar, hoje em US$ 25,1 bilhões. Para voltar a ter acesso ao mercado de crédito internacional em boas condições e atrair investidores, Macri enviou aos EUA uma equipe para negociar com os fundos abutres, apelido dado pelo kirchnerismo aos credores que não aceitaram a renegociação da dívida argentina.

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