O noticiário noturno fala de um país à beira da balcanização. La Paz e Sucre travam uma disputa para abrigar a sede do governo. Santa Cruz, no leste, clama por autonomia. O governador da província que abrange Cochabamba pede a renúncia do presidente Evo Morales. Mas Evo, primeiro índio a governar a Bolívia desde a conquista espanhola, há mais de quatro séculos, sabe sobre distúrbios, já que organizou protestos durante anos como líder cocaleiro. Apesar dos temores de que seu radicalismo criaria turbulências econômicas e políticas, há uma surpreendente estabilidade. "Um dos debates mais acirrados do meu gabinete é se deveríamos gastar parte de nossas reservas cambiais", disse Evo ao New York Times, explicando como as reservas mais do que dobraram desde sua posse, em janeiro de 2006, atingindo US$ 4 bilhões. Cedendo à ortodoxia econômica, acrescentou: "Por enquanto, não quero." A Bolívia continua sendo o país mais pobre da América do Sul, com 60% da população de 9,1 milhões de habitantes mergulhados na miséria, o que torna tais de debates cruciais. Mas Evo tem surpreendido até os mais céticos com os resultados de suas políticas, principalmente no setor energético, após a nacionalização, em 2006, da indústria petrolífera. Temida como uma medida radical, a nacionalização foi em grande parte uma renegociação de condições com as empresas estrangeiras de energia que ficaram na Bolívia. A receita com petróleo e gás natural subiu de 5% do PIB em 2004 para 13,3% em 2006. Isso pôs a Bolívia em seu patamar econômico mais invejável em anos. Espera-se um crescimento de 4% este ano. No aspecto político, críticos dizem que Evo tende para o autoritarismo, em parte por causa da proposta de seus partidários de que ele seja reeleito indefinidamente. Mas ele parece à vontade, após atingir os maiores índices de aprovação de qualquer presidente na memória recente. "Estamos criando outro modo de governar, mas não tem sido fácil."