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Bolívia e OEA anunciam auditoria vinculante de eleição presidencial

Chanceler Diego Pary disse que recontagem deve começar nessa semana e que governo acatará resultado; opositor Carlos Mesa rejeita processo 'pactuado unilateralmente entre La Paz e OEA'

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Por Redação
Atualização:

LA PAZ - A Bolívia e a Organização dos Estados Americanos (OEA) concordaram nesta quarta-feira, 30, em realizar uma auditoria do resultado das eleições presidenciais vencidas em primeiro turno por Evo Morales, informou o ministro das Relações Exteriores Diego Pary, detalhando que o processo deve começar nesta quinta-feira.

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"Concluímos o trabalho de coordenação, concluímos os acordos a serem assinados entre a Bolívia e a Organização dos Estados Americanos, para que a auditoria abrangente das eleições gerais de 20 de outubro possa ser realizada", afirmou Pary em comunicado à imprensa em La Paz.

O ministro das Relações Exteriores acrescentou que a auditoria será "vinculante", ou seja, sua conclusão deverá ser acatada pela OEA e pelo governo boliviano, e "poderá começar na quinta-feira, dia 31" após a chegada de cerca de 30 técnicos da agência multilateral.

Chanceler boliviano, Diego Pary, disse que país aceitará auditoria da eleição presidencial feita pela Organização dos Estados Americanos Foto: Martín Alipaz/EFE

"(O acordo garante) a verificação das atas, verificação do processo, de dados estatísticos e da cadeia de custódia dos votos, além do acesso às instalações e as informações que forem solicitadas (pelos técnicos)", completou o ministro.

A apuração da Organização Eleitoral Plurinacional (OEP) deu a vitória a Evo no primeiro turno com 47,08% dos votos contra 36,51% de seu oponente Carlos Mesa, por ter obtido uma vantagem de 10 pontos que, segundo a lei, define o vencedor sem necessidade de um segundo turno.

Mas, de acordo com as alegações dos adversários, pode ter havido manipulação do sistema de contagem rápida da OEP, que inicialmente previa um segundo turno entre Evo e Mesa. Um segundo sistema oficial de contagem definitiva também apontou a reeleição a Evo, no poder desde 2006. 

Protestos denunciando fraude se intensificaram, com a queima de centros eleitorais, greves e bloqueios enquanto a própria OEA, a União Europeia e os países da região recomendaram uma segunda votação para acabar com as tensões. La Paz negociou com a OEA em busca de ajuda para a questão.

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Bolivianos protestam em Cochabamba contra resultado das eleições presidenciais Foto: Jorge Ábrego/EFE

Rejeição da oposição

Em reação nesta quarta-feira, Mesa disse rejeitar a "auditoria eleitoral unilateral" entre o governo de Evo Morales e a OEA. "Nós não aceitamos a auditoria nos termos atuais, pactuados unilateralmente", afirmou em uma declaração à imprensa.

Na terça-feira, este centrista que governou a Bolívia entre 2003 e 2005, disse que só aceitaria a auditoria "se (Evo) estivesse disposto a não aceitar o resultado do Supremo Tribunal Eleitoral".

A auditoria foi sugerida na semana passada pelo presidente boliviano ao secretário-geral da OEA, Luis Almagro, depois de a oposição ter denunciado uma fraude para garantir o quarto mandato de Evo.

Grupos radicais se opõem

A decisão de realizar a auditoria não é compartilhada por alguns grupos civis que lideram há uma semana os protestos em várias cidades do país.

Contrário à auditoria da OEA, o líder do opositor Comitê Cívico de Santa Cruz (leste), Luis Fernando Camacho, propôs anular as eleições.

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"A solução é anular as eleições e ir para um novo processo (...) Se o governo aceitar, a greve será suspensa", garantiu Camacho, referindo-se à paralisação em curso nesta localidade do sudoeste boliviano e que também acontece em outras cidades, como La Paz.

Em meio aos protestos, nesta semana foram registrados confrontos em Santa Cruz, La Paz e Cochabamba entre simpatizantes de Evo e de Mesa. Por enquanto, o balanço é de mais de 40 feridos, incluindo 5 baleados.

Diante da escalada da violência, a ONU fez ontem "um apelo clamoroso e urgente aos atores políticos, aos setores sociais e a todas e todos os bolivianos para reduzirem tensões e rejeitarem qualquer ato de violência". / AFP e REUTERS

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