Bolívia segue sem conhecer resultados oficiais de votações

Em duas votações distintas, porém complementares, bolivianos escolheram neste domingo os membros para a Assembléia Constituinte e se concederão maior autonomia para os estados

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Por Agencia Estado
Atualização:

Dezoito horas após o fim das votações realizadas no último domingo na Bolívia, ainda não foram divulgados os dados oficiais sobre as eleições para a Assembléia Constituinte e o referendo acerca da autonomia das regiões, embora o governo já reivindique uma "vitória tripla". Os resultados divulgados pelo site da Corte Nacional Eleitoral (CNE) às 10 horas (11 horas de Brasília) ainda são parciais, e não coincidem com as pesquisas de boca-de-urna nem com os resultados extra-oficiais divulgados no próprio domingo por noticiários locais. No caso do referendo sobre a autonomia dos nove departamentos (estados) bolivianos, a CNE divulga o resultado da apuração de apenas 200.884 votos, frente um total de 3,7 milhões de eleitores. Enquanto o governo do presidente Evo Morales, as enquetes e os resultados extra-oficiais asseguram a vitória do "Não", os resultados divulgados pela CNE até o momento apontam a vitória do "Sim" com, 100.175 votos, frente a 89.047 desfavoráveis ao regime autônomo. Sobre a eleição dos 255 deputados que irão formar a nova Assembléia Constituinte, a CNE apresenta os resultados de 206.526 votos, dos quais 71.435 são para o Movimento ao Socialismo (MAS), partido do Governo, e 31.557 para a Poder Democrático e Social (Podemos), principal legenda de oposição. A Corte Eleitoral não divulgou nenhum dado consolidado em nível nacional, e não há previsão sobre quando o fará; a lei estabelece como limite o dia 27 de julho. Os resultados extra-oficiais, baseados em mostras de resultados reais das urnas, atribuem 134 ou 135 dos 255 lugares da Assembléia ao MAS (53%). Morales havia assegurado no domingo à noite que o partido obteria 60% dos votos. Vitória tripla Segundo o presidente boliviano, o MAS obteve uma vitória "tripla", pois registrou a maior votação, o maior número de constituintes e, além disso, o "Não", defendido pelo partido, ganhou no referendo sobre autonomias departamentais. Ainda assim, o resultado está muito longe do esperado por Morales, que reiterou durante a campanha que precisava de 80% dos votos para ter os dois terços necessários para aprovar as decisões na Assembléia, que começará a deliberar no dia 6 de agosto. O presidente disse querer "refundar a Bolívia" em favor das maiorias indígenas e camponesas, marginalizadas durante séculos. Morales confiava nas pesquisas, que nos últimos meses mostravam sua popularidade em torno de 80%. Os resultados extra-oficiais prevêem 60 cadeiras para a Podemos, do ex-presidente conservador Jorge Quiroga, e 11 para a centrista União Nacional. As 15 restantes seriam divididas entre os partidos menores. Antes das eleições, a imprensa local já divulgava contatos do MAS com outros partidos para chegar aos dois terços (170 cadeiras) exigidos da Assembléia. Referendo Com relação ao referendo sobre a autonomia, o instituto de pesquisas Equipo Mori atribui 56% dos votos ao "não" e 44% ao "sim" em todo o país. Já nos departamentos, cinco se disseram contrários, enquanto quatro apoiaram a autonomia. Os dirigentes dos departamentos que apoiaram a autonomia, liderados por Santa Cruz, festejaram na noite do domingo a vitória do "sim" em seus territórios. Os autonomista acreditam já terem direito a uma maior autonomia nessas regiões, mas o Governo alertou que somente a Assembléia Constituinte poderá estabelecer as características do novo regime descentralizado. O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, garantiu que a vitória do "não" em nível nacional inviabilizaria a aplicação da autonomia até mesmo nos departamentos em que o "sim" tivesse obtido maioria. Em sua campanha contra a autonomia, Morales argumentou que ela beneficiaria poucas famílias de oligarcas e fazendeiros do leste do país. Hoje o vice-presidente Álvaro García Linera reconheceu que o pedido de maior autonomia política e administrativa para as regiões tem um apoio popular muito amplo, tendo ultrapassado a barreira de 70% dos votos em vários departamentos.

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