Bolívia tenta negociar acordo de nacionalização da Entel

Telecom possui 50% da empresa, e seus funcionários e outros investidores menores apenas 6%; Os 44% restantes são, em tese, de propriedade do povo boliviano

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Por Agencia Estado
Atualização:

O governo da Bolívia buscará uma "saída negociada" com a empresa italiana Telecom para nacionalizar a subsidiária Entel, mas alertou que também poderá dar "outros passos" para que a companhia retorne para as mãos do Estado. A informação foi dada pelo ministro de Serviços e Obras Públicas, Jerjes Mercado, um dos membros da comissão que negociará com a Telecom, na terça-feira, 3. "Foi dito que temos um mês para negociar. Queremos uma saída negociada, portanto estabelecemos datas, pois também, se não houver negociação, temos de dar outros passos", declarou Mercado aos jornalistas. Nas próximas horas, o governo pedirá à empresa que designe uma equipe de negociação para iniciar as conversas que deverão ter um desfecho em um prazo máximo de 30 dias. A Telecom possui atualmente 50% da Empresa Nacional de Telecomunicações (Entel), e seus funcionários e outros investidores menores apenas 6%. Os 44% restantes, em tese, de propriedade do povo boliviano, são administrados em partes iguais por duas Administradoras de Fundos de Previdência (AFP): uma filial do grupo espanhol BBVA e outra do suíço Zurique. Além do ministro, a comissão governamental é formada pelos responsáveis pelas pastas da Presidência, Juan Ramón Quintana, e da Fazenda, Luis Arce, além dos vice-ministros de Telecomunicações, Roy Méndez, e de Coordenação Governamental, Héctor Arce. Arce disse que o governo aposta no diálogo, mas acrescentou que "o Estado boliviano analisará outras possibilidades" sobre a empresa, privatizada parcialmente na década passada pela italiana Stet e depois adquirida pela Telecom. "Foi formada esta comissão de negociação para tentar chegar a um consenso sobre um desejo muito fundamentado do povo boliviano, que é o de recuperar a propriedade e a soberania sobre uma de suas empresas mais importantes", disse o vice-ministro. Entel Uma fonte da empresa, presidida pelo italiano Franco Bertone, se limitou na terça-feira a dizer que a direção da companhia continua avaliando o anúncio realizado nesta segunda por Morales para estruturar o grupo que negociará a nacionalização da Entel. Mercado disse que serão realizadas auditorias na companhia e antecipou que as ações da italiana não valem mais do que US$ 180 milhões. O ministro acrescentou que também há discrepâncias sobre os números de investimento feitos pela companhia desde o início do controle do sistema telefônico, em 1996. "A Entel diz que investiu US$ 610 milhões, mas, segundo a Superintendência de Telecomunicações, há uma diferença de US$ 144 milhões, e isto é o que temos de analisar durante o processo de negociação", afirmou. O relatório sobre os lucros da empresa em 2006 informa que sua receita bruta foi de US$ 246 milhões, 16% a mais do que em 2005, enquanto o lucro líquido beirou os US$ 51 milhões, 20% a mais do que na gestão anterior. Em 2006, Morales já havia nacionalizado o sistema de gás e petróleo do país, processo que os críticos do governo consideram agora que não se tratou de uma estatização, mas apenas de uma reforma tributária. Neste ano, o presidente boliviano aproveitou para expropriar a suíça Glencore, que atua na fundição de minerais.

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