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''Bolsa-jihad'': arma saudita contra terror

Programa beneficia ex-terroristas

Por Roberto Simon
Atualização:

País natal de 15 dos 19 terroristas do 11 de Setembro, a Arábia Saudita diversificou suas estratégias na luta contra o terror. Em vez de limitar-se a operações policiais e de inteligência, o reino tenta agora conquistar "corações e mentes" de partidários da Al-Qaeda por meio de amplos programas sociais. Bolsas do governo a ex-terroristas, centros de reabilitação e julgamentos com base na Sharia, a lei islâmica, são algumas das novas armas no front doméstico. Acusados de terrorismo que concluem o programa de reeducação religiosa - conhecido como Munasaha ("Comitê para Aconselhamento") e coordenado pela Unidade de Segurança Ideológica do Ministério do Interior - são agraciados pelo rei Abdallah com moradia, oportunidades profissionais e, possivelmente, auxílio para se casar. A base do "tratamento", aplicado em modernos centros de detenção, é a introdução ao "verdadeiro" Islã wahabita (interpretação ultraconservadora) por autoridades religiosas ligadas ao rei. Mesa de pingue-pongue, PlayStation e piscina são outros incentivos. Há programas específicos para ex-detidos em Guantánamo e para extremistas que foram ao Iraque lutar contra os EUA. Outro exemplo de combate à mentalidade jihadista são os recentes processos judiciais contra quase mil acusados de terrorismo. Para julgá-los, foi formada uma corte de clérigos que baseia as acusações no argumento de que os terroristas desvirtuaram a palavra revelada e, portanto, cometeram um crime contra o Islã. Novamente há a ideia de que os agressores seguem uma fé deturpada e devem ser trazidos à luz por meio do wahabismo "correto". "Riad prendeu supostos terroristas e agora decidiu julgá-los. O problema é que as acusações no reino não são escritas, são apenas verbalizadas", explicou ao Estado Christoph Wilcke, especialista em justiça saudita da Human Rights Watch. Apesar dos terroristas "reincidentes", as medidas estão funcionando e têm o apoio velado dos EUA, diz o pesquisador do Carnegie Endowment for Peace Christopher Boucek. Prova disso seria a ausência de atentados em mais de dois anos. O governo saudita, que diz já ter reconvertido 1.500 terroristas, quer agora exportar seu modelo para outros países islâmicos. Sede das duas cidades mais importantes do Islã, Meca e Medina, o reino teria uma maior autoridade para desbancar as raízes ideológicas do terror.

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