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Bolsonaro é alvo de protestos nos EUA e critica ‘defensores da tirania’

Ao pousar em Washington, presidente brasileiro usa o Twitter para rebater opositores e diz que pela primeira vez em muito tempo um chefe de Estado do Brasil não é antiamericano

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla , Ricardo Leopoldo , correspondente e Washington
Atualização:

WASHINGTON - O presidente Jair Bolsonaro chegou aos Estados Unidos às 15h40 (16h40 em Brasília), onde se encontrará na terça-feira com o presidente americano, Donald Trump. Um grupo de 60 manifestantes realizou um protesto em frente à Casa Branca na tarde deste domingo, 17, contra a visita do brasileiro. 

Um grupo de 60 manifestantes realizou um protesto em frente à Casa Branca contra a visita de Bolsonaro Foto: Beatriz Bulla / Estadão

No Twitter, quando pousou em Washington, Bolsonaro disse que a união entre Brasil e EUA "assusta defensores do atraso e da tirania". "Pela primeira vez em muito tempo, um presidente brasileiro que não é antiamericano chega a Washington. É o começo de uma parceria pela liberdade e prosperidade, como os brasileiros sempre desejaram", escreveu ele. O grupo já havia se desmobilizado no momento da chegada de Bolsonaro ao local onde se hospedará. O acesso à rua foi fechado pelo serviço secreto americano. 

Muitos dos participantes do evento expressaram temores de que o relacionamento dos dois chefes de Estado possa elevar as tensões na Venezuela, com efeitos negativos para a estabilidade política na América do Sul, e se declaravam como anti-fascistas. O evento foi organizado pelo grupo "DC Unido contra o ódio", em tradução livre do título "DC United against hate". A chamada para a movimentação trazia os dizeres: "sem Bolsonaro em DC! Solidariedade com o anti-fascismo internacional".

Acesso à rua onde manifestantes estavam foi fechado pelo serviço secreto americano Foto: Beatriz Bulla / Estadão

"Bolsonaro e Trump legitimizam a extrema direita em nível global, pois assumem uma retórica perigosa contra diversos setores da sociedade", comentou Michael Shallal, um dos organizadores do protesto, funcionário de um museu em Washington. Segundo ele, um dos seus principais temores é que "os EUA poderão espalhar o imperialismo pela América do Sul, sobretudo com um golpe à Venezuela, com intervencionismo militar." 

Para Barbara Silva, tradutora e professora de português e espanhol na capital americana, Bolsonaro defende "um discurso de ódio", embasado em muitos preconceitos contra mulheres, negros e apoiadores do movimento LGBT. Ela também aponta que a defesa do presidente brasileiro de  Juan Guaidó como presidente legitimo da Venezuela também pode aumentar a tensão entre os governos de Brasília e de Caracas. "Temo que os EUA possam utilizar a aproximação com a nova administração Bolsonaro para vender mais armas, o que certamente não é algo favorável à paz." 

Evento foi organizado pelo grupo "DC Unido contra o ódio", em tradução livre do título "DC United against hate" Foto: Beatriz Bulla / Estadão

Barbara segurava dois cartazes, um no qual dizia "todos contra o fascimo" e outro com as fotos de Trump e de Bolsonaro com a frase "Ele não" em português e inglês. Ela apontou também que do encontro entre os dois líderes podem surgir notícias positivas. "Há uma agenda que deve tratar de economia, como a exportação de carne do Brasil para os EUA, o que é favorável. Da reunião, não haverá somente pontos negativos", frisou. 

Na avaliação do analista de políticas de uma organização não governamental, cujo primeiro nome é Jessi, Bolsonaro tem muitas similaridades com Trump por ter uma postura de intolerância contra "as pessoas que não pensam como ele", o que provoca um ambiente de animosidade e divisão social. "Seria importante que o presidente do Brasil não adotasse um comportamento tão próximo ao de Donald Trump, mas não tenho expectativa de que Jair Bolsonaro vai mudar no curto prazo, o que é ruim."

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Muitos dos participantes do evento expressaram temores de que o relacionamento dos dois chefes de Estado possa elevar as tensões na Venezuela Foto: Beatriz Bulla / Estadão

"O Bolsonaro representa um tipo de fascismo religioso e discrimina pessoas negras, encoraja a violência policial. Desde que ele foi eleito ouvimos mais e mais notícias de homossexuais e negros mortos pela polícia. Estou aqui não por condenar Bolsonaro, mas o fascismo", afirmou Rhys Baker, inglês de 31 anos, que trabalha em comunicação digital em uma rede de TV. Ele disse que ficou sabendo da situação do Brasil através do jornalista americano Glen Greenwald.

Já Ben, americano ativista que não quis dizer o sobrenome, fez uma pós-graduação em estudos latino-americanos e disse ter muitos amigos brasileiros em Washington. "Bolsonaro representa tudo o que sou contra: sexismo, racismo, homofobia, transfobia. É terrível em todas as esferas", disse.

Muitos dos manifestantes se declaravam como anti-fascistas Foto: Beatriz Bulla / Estadão

Bolsonaro se hospedará na Blair House, residência de hóspedes do governo americano, em frente à Casa Branca. O local também hospedou os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff em suas visitas ao país. No Twitter, Bolsonaro disse que esta é uma "honraria concedida a pouquíssimos chefes de Estado".

O primeiro compromisso do brasileiro será um jantar com representantes do movimento conservador americano. Entre eles, Steve Bannon, ex-assessor de Trump que rompeu com o presidente americano. Outro era Olavo de Carvalho, escritor que indicou vários integrantes do governo e se mostra pessimista com o rumo da administração. Em um jantar no sábado, ele disse amar Bolsonaro, mas se mostrou pessimista quanto à administração. “Se tudo continuar como está, já está mal. Não precisa mudar nada para ficar mal. É só continuar isso mais seis meses e acabou”, afirmou. A segunda-feira será destinada a encontros com empresários e investidores e, na terça-feira, Bolsonaro terá um encontro bilateral com Donald Trump.

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Ao sair da Blair House para jantar com integrantes do movimento conservador, Bolsonaro ouviu os gritos de um apoiador. "Bolsonaro, we love you, continue fazendo o que você está fazendo. Você está sendo o cara. Não deixe a corrupção te pegar, você não precisa", afirmou. Bolsonaro acenou e agradeceu, em português e em inglês, dizendo "thank you".

Os gritos vieram de Daniel Carvalho de Oliveira, que tem 54 anos e mora nos EUA há 29 anos. Ele estava acompanhado da mulher, Kelly Oliveira, que mora nos EUA há 9 anos, e da filha. Oliveira disse não ser integrante de nenhum partido. Ele não votou em 2018 porque não transferiu a zona eleitoral, que é em Miami, onde morava antes, para Washington.

A jornalistas, ele afirmou que o recado sobre a corrupção a Bolsonaro foi porque "o poder é satânico e ele pode te pegar, você pode ser corrompido com todas as ofertas". "Ele não precisa disso. O dinheiro só é bem-vindo quando é honesto. A posição que ele exerce hoje é uma posição em que receberá várias propostas de corrupção", afirmou.

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