Brasil aceita receber refugiados da Líbia

Segundo agência da ONU, 4 mil pessoas de várias nacionalidades não podem voltar a seus países de origem e estão presas nas fronteiras líbias

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Por Jamil Chade
Atualização:

O Brasil aceitou o pedido da ONU para que receba refugiados da Líbia. O governo poderá dar refúgio para o que a organização já chamam de "vítimas negligenciadas do conflito". São sudaneses, etíopes, nigerianos, argelinos e famílias de várias outras nacionalidades que, diante do caos em seus países, não podem voltar e hoje estão presos na Líbia."Indicamos (à ONU) que estamos dispostos a estudar casos", disse ao Estado o secretário executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, presidente do Conselho Nacional de Refugiados. Segundo ele, o Brasil ainda não definiu quantos receberá. "Nosso compromisso é o de ajudar. Mesmo que não concordemos com a guerra", disse. Apesar de aceitar os refugiados, Barreto faz questão de criticar a posição dos europeus, que segundo ele estão bombardeando a Líbia e, ao mesmo tempo, fechando as portas para os refugiados. "Há uma obrigação internacional de ajudar", afirmou. Johannes van der Klaauw, representante do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), confirmou que apresentará os casos ao governo brasileiro na semana que vem. No total, a ONG Médicos Sem Fronteira estima que o número de refugiados na Líbia seja de 1 milhão de pessoas. Do total, 600 mil seriam estrangeiros. Muitos já teriam voltado para seus países de origem, mas uma parte está presa no deserto. A ONU estima que 4 mil pessoas não tenham para onde ir. Há um mês, a ONU enviou uma carta a 20 países, entre eles o Brasil, pedindo ajuda. No total, os governos ofereceram receber cerca de 900 pessoas. "O número é ainda pequeno e precisamos de maior colaboração", disse Ven der Klaauw. Nos acampamentos, os relatos são de desespero. "Estamos aqui há meses. As pessoas perderam suas famílias e seus documentos. Agora, começam a perder a razão", disse Emmanuel, refugiado de 40 anos da República Democrática do Congo, em declarações recolhidas pela MSF no campo de refugiados de Shousha, na fronteira com a Tunísia. "Fiquei quatro meses na prisão na Líbia e fui espancado com frequência. Por três semanas não pude ficar de pé. Eu mesmo enterrei sete pessoas, inclusive três mulheres grávidas", contou Abdul, da Costa do Marfim, refugiado no mesmo acampamento.Com a chegada do verão, a situação é ainda mais tensa. O acampamento fica em pleno deserto, exposto a temperaturas altas e tempestades de areia. A falta de higiene começa a preocupar e a violência marca o cotidiano do local. Em maio, manifestações por melhores condições terminaram com a morte de seis pessoas.

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