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Brasil ajudará afegãos a explorar super-reserva

País ajudará Cabul a estabelecer marco regulatório para as operações em jazida gigante de ferro, cobre, cobalto, ouro e, principalmente, lítio

Por Adriana Carranca
Atualização:

O governo brasileiro entrará no mercado trilionário de exploração de recursos minerais no Afeganistão. Uma delegação do Itamaraty retornou de Cabul na semana passada com um pedido oficial do governo afegão de ajudá-los a desenvolver o marco regulatório e o ambiente de negócios para abrir à iniciativa privada reservas intocadas, no valor de US$ 1 trilhão, descobertas pelos EUA no país, em junho. Em busca de maior independência da Casa Branca, o presidente Hamid Karzai não pretende entregar o tesouro nas mãos dos tradicionais parceiros e seus aliados da Europa, e aposta em alternativas como o Brasil para ajudá-lo a desenvolver a mineração no país e intermediar a corrida ao tesouro afegão.As reservas de ferro, cobre, cobalto, ouro e, principalmente, lítio - metal raro, usado pela indústria química e farmacêutica e na produção de baterias, laptops e celular - são tão extensas que podem transformar o Afeganistão num polo minerador. Nova reserva de lítio, ainda não confirmada pelo governo afegão, chegaria a US$ 3 trilhões, a maior do mundo, segundo informação do Ministério de Minas afegão ao Itamaraty.A delegação brasileira, comandada pelo diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), ministro Marco Farani, foi recebida em Cabul pelo ministro das Minas, Wahidullah Shahrani. Entre outros acordos, os oficiais discutiram a possibilidade de desenvolver tecnologia brasileira-afegã para produção de bateria de lítio, hoje detida apenas pela China, EUA e Coreia do Sul. "Karzai busca aumentar seu próprio espaço e poder político e tem tentado aproximar-se de outras economias para reduzir a influência de Washington e da Grã-Bretanha no governo afegão", diz Jorrit Kamminga, diretor do Icos, think-tank internacional com presença no Afeganistão. EUA e Grã-Bretanha são os maiores financiadores do governo de Karzai, mas as relações têm se deteriorado na medida da intensificação dos conflitos no país. Kamminga avalia como positiva a aproximação do Brasil com o governo afegão, que inclui uma Embaixada do Brasil em Cabul - o decreto foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em setembro. "A presença estrangeira no Afeganistão é motivada pelos conflitos e por interesses geopolíticos, no caso dos vizinhos Irã e Paquistão", diz. "Sendo uma nação sem questões étnicas ou passado de interferência no país, o que o Brasil mostra aos afegãos é um interesse genuíno de cooperar". O Brasil pode ajudar Hamid Karzai a conquistar maior apoio político interno, dada a boa reputação da diplomacia brasileira no mundo islâmico. "O governo afegão busca aí, talvez, um modelo de parceria triangular, com Afeganistão numa ponta, as nações desenvolvidas com presença militar em outra e um terceiro neutro e pacifista. O Brasil tem credenciais para isso, porque é visto como um bom interlocutor junto aos países muçulmanos", avalia o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Mattar Nasser.O ministro Marco Farani diz que a intenção do Brasil é ajudar no processo de estabilização do país e promete uma parceria de longo prazo com o governo afegão. A cooperação se dará, principalmente, em duas áreas: agricultura e mineração. "O governo afegão não sabe como abrir as reservas à exploração e o Brasil tem expertise no setor e legislação das mais avançadas. E é reconhecido na agricultura e pesquisa agropecuária", diz Farani. Em dezembro, o Departamento Nacional de Produção Mineral, do Ministério das Minas e Energia, receberá delegação afegã para um workshop e visitas a mineradoras brasileiras. A comitiva terá ainda produtores que visitarão projetos no semiárido nordestino. O Brasil deve ajudar no zoneamento de terras e transferência de tecnologia para substituir o cultivo dominante de papoula, matéria-prima da heroína, no seco solo afegão. Shahrani, Ministro das Minas, e Mohammad Asif Rahimi, da Agricultura, programam visita oficial ao Brasil no 1.º semestre de 2011.

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