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Brasil atua para reverter golpe em Honduras

Amorim busca estratégia que dê ao País papel central na recondução de Zelaya ao poder

Por Denise Chrispim Marin e BUENOS AIRES
Atualização:

O governo brasileiro mobilizou-se desde a manhã de ontem para se opor ao golpe de Estado em Honduras e, especialmente, para pressionar em favor da recondução de José Manuel Zelaya à Presidência hondurenha. Além de emitir uma nota de dura condenação ao episódio, o Itamaraty instruiu o embaixador na Costa Rica, Tadeu Valadares, a apresentar o apoio brasileiro a Zelaya, assim que desembarcasse em San José. Em Washington, o embaixador do Brasil junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), Ruy Casaes, recebeu ordem de não permitir que o organismo suspenda sua reunião para tratar do tema antes de emitir uma veemente condenação ao golpe. A orquestração partiu do próprio ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que se encastelou no Itamaraty desde que recebeu a notícia de Tegucigalpa. Ao chanceler coube a tarefa de montar um esquema capaz de colocar o Brasil no centro do desmantelamento do golpe. Amorim determinou ao embaixador Valadares que deixasse claro a Zelaya a decisão do Brasil de exercer toda a pressão necessária para seu retorno a Honduras. Também avisou Casaes que a OEA tem de se manter em reunião permanente, até que haja a recuperação da ordem institucional em Honduras. O embaixador brasileiro em Tegucigalpa, Brian Michael Fraser Neele, que não estava no país até a manhã de ontem, recebeu instruções para retornar imediatamente a Honduras. A crise fora acompanhada pelo encarregado de negócios, ministro Francisco Catunda Resende. Durante a manhã, Amorim conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por meio de nota divulgada pelo Itamaraty, o governo brasileiro evitou as expressões "golpe de Estado", para se referir ao movimento militar que derrubou o presidente de Honduras, e "sequestro", ao tratar da forma como Zelaya foi arrancado da residência oficial e conduzido arbitrariamente, em helicóptero, para a Costa Rica. O texto condena de "forma veemente" a retirada de Zelaya do Palácio Presidencial e sua "condução para fora do país" e "conclama" pela sua reposição "imediata e condicional" a suas funções. "Ações militares desse tipo configuram atentado à democracia e não condizem com o desenvolvimento político da região", acentua a nota. "Eventuais questões de ordem constitucional devem ser resolvidas de forma pacífica, pelo diálogo e no marco da institucionalidade democrática." Ontem, em meio à eleição parlamentar argentina, a presidente Cristina Kirchner declarou que o golpe de Estado em Honduras significa "o retorno da barbárie na América Latina". Cristina informou que instruiu seu chanceler, Jorge Taiana, a manter contatos para a convocação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e do Grupo do Rio para que as entidades pressionem pela recondução de Zelaya à presidência. Concentrada nas eleições, a chancelaria argentina não havia emitido nenhuma nota oficial sobre o golpe em Honduras.

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