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Brasil, Colômbia e Equador mediarão acordo para pôr fim à crise em Caracas

Em comunicado, chanceleres da Unasul condenam rompimento da ordem constitucional e pedem que os dois lados contenham a violência e a violação dos direitos humanos

Por Denise Chrispim Marin e Caracas
Atualização:

(Atualizada às 23h30)

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CARACAS - Chanceleres de Brasil, Colômbia e Equador - respectivamente, Luiz Alberto Figueiredo, María Ángel Holguín e Ricardo Patiño - levarão adiante a mediação da União de Nações Sul-Americanas para o diálogo entre governo e oposição na Venezuela, informou na quinta-feira, 27, o jornal de Caracas El Universal, citando fontes da entidade regional.

Figueiredo deixou Caracas na noite de quarta-feira confiante na possibilidade de diálogo entre o governo de Nicolás Maduro e os líderes da oposição, que há mais de um mês promovem pelas ruas do país protestos violentos - cujo número ascende a 36 mortos. Para o ministro brasileiro, todos os setores políticos e da sociedade civil ouvidos ao longo de dois dias expressaram desejo de pacificação do país e de envolvimento em um diálogo franco e respeitoso. Uma saída fora da Constituição - como golpe ou antecipação de eleições - foi rejeitada por todos os setores ouvidos no encontro.

No documento liberado ao fim do encontro da Unasul em Caracas, os membros da entidade regional condenaram qualquer tentativa de rompimento da ordem constitucional e conclamaram os dois lados a conter a violência e a violação dos direitos humanos. A mensagem não especificou quais representantes da entidade prosseguiriam na mediação. Mas na última conversa com Maduro, na quarta-feira, houve consenso sobre a criação do comitê com três integrantes - chanceleres ou peritos - para acompanhar os passos iniciais do diálogo.

Quando ainda não tinha sido apontado como integrante do grupo, Figueiredo disse ao Estado que o comitê poderia atuar de forma mais ágil do que o conjunto de 12 chanceleres do bloco e será uma espécie de "garantidor" das conversas, sem interferir nelas.

Em dois dias, os chanceleres conversaram com autoridades do governo venezuelano - incluindo Maduro, em duas ocasiões -, integrantes da frente oposicionista Mesa da Unidade Democrática (MUD), líderes estudantis dos dois lados, representantes da Igreja e de outras religiões e com cerca de 20 empresários.

"Estou absolutamente convencido de que o diálogo não só é factível como se encontra muito próximo de se tornar realidade", afirmou Figueiredo. "Com todas as críticas que o governo e a oposição fazem um ao outro, o que se vê é uma vontade enorme de pacificação dos dois lados, o repúdio à violência e o entendimento de que, sem o diálogo, sem se sentarem à mesa, não há como o país voltar ao clima de normalidade."

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Para a Venezuela ser "cada vez mais democrática, estável e próspera" é preciso haver entendimento nacional, insistiu Figueiredo. Nenhum dos lados contesta o direito à manifestação, sublinhou o chanceler, mas ambos rejeitam a violência.

Figueiredo, porém, acolheu a versão do governo de Maduro sobre sua responsabilidade confirmada apenas por três ou quatro das mortes. A oposição e organizações de direitos humanos, como o Fórum Penal, apontam as forças de segurança da Venezuela como responsável pela grande maioria das mortes.

"Segundo o governo, os responsáveis foram identificados, presos e estão sendo processados. As demais mortes ocorreram por várias razões", disse o chanceler. "Mais de 20 delas se deram por ferimentos provocados por armas de fogo usadas por grupos armados. A partir daí, não fica claro de quem é a responsabilidade porque alguém chegava com uma motocicleta, dava um tiro e ia embora."

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O ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Elías Jaua, afirmou nesta quinta que Maduro "aceitou totalmente" todas as recomendações da Unasul. Horas depois, foi anunciada a criação do Escritório de Direitos Humanos e do Conselho Nacional de Direitos Humanos, que responderão diretamente ao Palácio de Miraflores. As críticas ao Brasil por não ter sido mais incisivo nas suas gestões com a Venezuela sobre o respeito aos direitos humanos foram rebatidas por Figueiredo. O chanceler afirmou que o Brasil usou os canais diplomáticos para conversar reservadamente com representantes de Caracas e de outros países da região. "O Brasil não executa ações de política externa pela imprensa. Não me lembro de isso ter acontecido e espero que nunca ocorra", reagiu.

Sanções. Os EUA reiteraram a possibilidade de impor sanções à Venezuela. A secretária assistente do Departamento de Estado dos EUA, Roberta S. Jacobson, disse que isso pode pressionar Maduro a dialogar.

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