Brasil concede asilo a opositor boliviano

Senador que faz oposição ao governo de Evo Morales refugiou-se na embaixada brasileira em La Paz e denunciou perseguição do Estado

PUBLICIDADE

Por BRASÍLIA
Atualização:

O governo brasileiro anunciou ontem que decidiu conceder asilo ao senador boliviano Roger Pinto Molina, que está na embaixada brasileira em La Paz desde o dia 28. Molina faz oposição ao presidente Evo Morales e alega sofrer perseguição política. O caso foi tratado com discrição pelo Itamaraty, que tem por tradição aceitar pedidos de asilo. Nesse caso, no entanto, a situação tornou-se mais delicada, em razão das relações bilaterais com a Bolívia de Morales, considerada um país amigo."O governo brasileiro decidiu conceder asilo ao nacional boliviano Roger Pinto Molina, à luz das normas e da prática do Direito Internacional Latino-Americano e com base no Artigo 4.º, Inciso X, da Constituição Federal", diz a breve nota divulgada ontem pelo Ministério das Relações Exteriores. Molina dorme no sofá na sala de um ministro-conselheiro da embaixada. A concessão de asilo, no entanto, não representa a sua saída imediata de La Paz. Ainda será preciso esperar que o governo boliviano emita um salvo-conduto para que o senador - sobre o qual pesa uma ordem de prisão - possa deixar a embaixada brasileira e ser levado até o aeroporto, explicou o porta-voz do Itamaraty, embaixador Tovar Nunes da Silva. O embaixador informou que o governo boliviano foi informado na quarta-feira sobre a decisão brasileira. Ainda não estão definidas a data e a forma de realização da viagem ao Brasil. "A minha família estava com medo do que podia acontecer comigo. Estavam ameaçando até queimar nossa casa", afirmou o senador em entrevista ao site BBC Brasil. Ele é líder no Senado do partido opositor Convergencia Nacional (CN). Molina foi eleito pela CN, um partido conservador, no Departamento (província) de Pando, ao norte da Bolívia. A decisão pelo pedido de asilo foi anunciada no dia 29, em uma entrevista concedida em La Paz pelo deputado Adrian Oliva, também da Convergencia Nacional. O deputado leu uma carta de Molina, na qual o senador argumentava, entre outros pontos, que "por pensar de maneira diferente" estava em "circunstâncias difíceis", o que o levou a buscar refúgio na embaixada do Brasil. Disse também temer por sua vida e a de sua família, que viajou há duas semanas para Rio Branco, no Acre. De acordo com o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, não há perseguição política na Bolívia, "mas acusados de atos de corrupção e infrações penais".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.