Preocupado com os conflitos na Bolívia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mobilizou ontem, com seu colega boliviano, Evo Morales, e outros líderes da região o Grupo de Amigos da Bolívia para tentar intermediar o diálogo entre La Paz e a oposição regional. No final da tarde, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, deixou escapar o temor do Palácio do Planalto em relação à uma possível tentativa de golpe ao dizer que "o Brasil não reconhecerá nenhum governo que se proponha a substituir o governo da Bolívia". "Não toleraremos a ruptura do ordenamento constitucional", afirmou Garcia. Lula tratou da intermediação internacional com a argentina Cristina Kirchner e o venezuelano Hugo Chávez, enquanto seu assessor procurava autoridades colombianas. Ele pretendia telefonar, à noite, para a chilena Michelle Bachelet. Segundo Garcia, ao falar com Lula, Evo mostrou-se pessimista com relação ao diálogo com a oposição. Na conversa, o brasileiro também teria insistido na necessidade de proteção militar às instalações do setor de gás. Ontem, um avião da Aeronáutica esperava um sinal de Evo para levar Garcia e o secretário-geral das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, a La Paz para iniciarem o trabalho de intermediação do Grupo de Amigos da Bolívia. Até a noite, o avião não tinha decolado. Garcia afastou a alternativa de Chávez, que ofereceu ajuda militar ao governo boliviano, e insistiu que a contribuição da vizinhança se dará na esfera diplomática. Fontes do Palácio disseram ao Estado que Evo está convocando movimentos aliados a proteger o governo de ataques de setores mais radicais da oposição e, por isso, os confrontos tornaram-se inevitáveis. Segundo Garcia, para tomar o controle da situação, o governo boliviano terá de adotar medidas aparentemente contraditórias - agir com firmeza para restabelecer a lei e a ordem e atenuar suas posições em relação à autonomia regional, à partilha do imposto sobre hidrocarbonetos e ao referendo da Constituição (as reivindicações da oposição). "Esperamos uma solução rápida para evitar uma guerra civil", afirmou Garcia. "Uma guerra civil implicaria uma resposta muito dura dos países (da região)."