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Brasil deve abrandar críticas à guerra, diz especialista

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo brasileiro cometerá um "imenso equívoco" se insistir na tecla ideológica e mantiver o mesmo discurso duro, utilizado antes do início da guerra, contra a invasão dos Estados Unidos ao Iraque, avalia o especialista em relações internacionais Paulo César Manduca, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Antes do início da guerra, havia espaço para um discurso mais aberto, agora isso acabou. E, neste momento, a última coisa que interessa ao Brasil é um confronto aberto com os Estados Unidos, até porque não vale a pena este confronto", afirma Monduca. Para Monduca, a política internacional sempre foi "absolutamente realista" e, nos momentos decisivos, o direito internacional nunca foi respeitado pelas grandes potências. "A França, agora ícone da defesa das decisões do Conselho de Segurança da ONU, desrespeitou abertamente este mesmo conselho e explodiu um artefato nuclear no Atol de Mururoa, há quatro anos", lembra ele. "As decisões do Conselho de Segurança valem para os países e nunca para as potências." Na avaliação de Monduca, não há razões para o Brasil "peitar sozinho" este quadro histórico da política internacional. "O governo deve ser bem claro em defesa dos interesses brasileiros. A França nunca defendeu interesses do Brasil e Saddan Hussein muito menos", afirma ele. Monduca acredita que um "discurso de princípios" só vale neste momento se for em defesa de uma rápida volta à normalidade, para não colocar em jogo a política de estabilização monetária, "pela qual estamos pagando tão caro". "Este é um interesse claro do Brasil", diz ele. "Mas fora disso não temos muita escolha." O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou assessores e recolocou em "postos razoáveis" da política internacional, segundo Monduca, diplomatas e especialistas que mantêm uma posição claramente anti-americana. "Alguns dos que voltam agora foram lançados no ostracismo durante o governo de Fernando Henrique Cardoso", lembra ele. "Isso é até admissível pela grande potência, os Estados Unidos, mas se o Brasil endurecer contra a guerra será intolerável." Veja o especial: Veja o índice de notícias sobre o Governo Lula-Os primeiros 100 dias e os ministérios

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