PUBLICIDADE

Brasil e aliados admitem 'impasse democrático'

Às vésperas da primeira reunião do Mercosul sem o Paraguai, Brasília, com Buenos Aires e Montevidéu, tenta administrar crise

Por Lisandra Paraguassu e BRASÍLIA
Atualização:

Às vésperas da primeira reunião do Mercosul sem o Paraguai, reperesentantes de Argentina, Brasil e Uruguai admitem que há um "impasse democrático" com o vizinho.Convicto de que não houve ruptura da democracia e sem intenção de negociar uma antecipação das eleições, o novo governo paraguaio não dá aos demais membros do Mercosul nenhuma margem para terminar com a suspensão do Paraguai do grupo, sob pena de desmoralizar completamente a cláusula democrática assinada por todos no Protocolo de Ushuaia. Na melhor das hipóteses, o Paraguai ficará fora do Mercosul até julho de 2013, quando está prevista para ocorrer a primeira reunião depois das eleições paraguaias, marcadas para abril. Apesar da resistência da presidente Dilma Rousseff, que gostaria de isolar o Paraguai apenas politicamente, os reflexos econômicos de tanto tempo fora do Mercosul são inevitáveis. O governo brasileiro já decidiu que não tomará medidas drásticas como fechar a Ponte da Amizade ou suspender a venda de produtos estratégicos para o país vizinho, como fez a Venezuela ao cortar o fornecimento de petróleo aos paraguaios. No caso do Brasil, 50% da gasolina consumida no Paraguai é da Petrobrás, assim como 100% do querosene de aviação. Ainda assim, o estranhamento político com o novo governo paraguaio vai levar inevitavelmente a uma redução nos programas de cooperação ou ajuda ao país. Sem contatos presidenciais não há clima, por exemplo, para que sejam abertos novos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras no Paraguai ou que novos projetos conjuntos sejam assinados. Apesar de não querer estrangular o Paraguai e não anunciar oficialmente que não reconhece o novo governo, a presidente Dilma não pretende aceitar o pedido de reunião bilateral feito por Federico Franco, sucessor de Fernando Lugo, deposto na sexta-feira. Rigor. Ainda não foi descartada a possibilidade de se adotar medidas mais duras, que seriam tomadas pelo Mercosul como um todo e também pela União das Nações Sul-americanas (Unasul), onde alguns países - especialmente Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela - têm ameaçado adotar ações mais duras contra o Paraguai. As decisões, no entanto, terão de ser tomadas em conjunto nas reuniões dos dois grupos que ocorrerão em Mendoza, na Argentina. A avaliação no Brasil é que, mesmo sendo teoricamente possível separar o afastamento político do Paraguai da questão econômica, há uma tendência de "apertar mais" o novo governo paraguaio para que fique claro que haverá consequências pelo rompimento da cláusula democrática. Há a preocupação de mostrar que as declarações do Mercosul não são apenas um "esperneio" sem resultados para que ações como o impeachment relâmpago de Lugo não sejam banalizadas. Especialmente no Mercosul terá de ser analisado, por exemplo, como fica o acesso do Paraguai ao Focem, o fundo criado pelos quatro membros no qual o Brasil, o mais rico, contribui com 70% dos recursos e o Paraguai, o mais pobre, é o maior beneficiado. A linha de transmissão de energia de Itaipu até Assunção que está sendo construída pelo Brasil é, por exemplo, financiada pelo Focem. O País não pretende suspender o projeto, mas o acesso do Paraguai a novos financiamentos pode ser suspenso também. Também terá de ser analisada, pelos presidentes, como fica a situação do Paraguai no mercado de tarifas comuns. A suspensão política não retira automaticamente o Paraguai da união aduaneira, mas a possibilidade de a medida ser adotada não pode ser descartada, segundo um diplomata ouvido pelo Estado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.