Mediar as atribuladas relações entre Bogotá e Caracas e controlar os excessos do presidente venezuelano, Hugo Chávez, são as contribuições mais significativas que o governo brasileiro poderia dar para ajudar a resolver a questão dos reféns na Colômbia. A afirmação é do ex-presidente colombiano Ernesto Samper (1994 -1998), que está em visita ao Brasil. "Uma saída internacional do conflito precisa incluir Chávez, porque ele é o único que tem contato com as Farc hoje", disse Samper, em entrevista ao Estado em São Paulo. "Seria interessante se o presidente Lula acompanhasse Chávez para dar garantias à Colômbia de que ele não utilizará politicamente a libertação dos reféns - nem converterá o acordo humanitário num instrumento para legitimar a guerrilha." Nos últimos meses, as Farc entregaram seis reféns para Chávez, como um ato de desagravo, depois de o presidente colombiano, Álvaro Uribe, ter suspendido sua mediação nas negociações com a guerrilha. O fato de Chávez ter defendido as Farc publicamente em diversas ocasiões, porém, parece ter tornado o custo político da sua interferência muito elevado para Bogotá. "O problema é que nem o governo nem a guerrilha estão interessados realmente na troca dos reféns por guerrilheiros presos", afirma Samper. Ele explica que, para a guerrilha, o que interessa é obrigar o governo a negociar. "É isso que lhes daria reconhecimento político", completa. O governo, por seu lado, faz propostas unilaterais prometendo soltar rebeldes presos porque quer evitar uma negociação de fato. "Uribe teme que o ato de sentar-se à mesa com guerrilheiros possa ser interpretado como uma sinal de fraqueza em sua bem-sucedida política de segurança." Para Samper, o maior erro dos países e organizações envolvidos no esforço para libertar a franco-colombiana Ingrid Betancourt, refém das Farc desde 2002, foi transformar a ex-candidata à presidência da Colômbia na "jóia da coroa" da guerrilha. "As Farc agora temem que libertar Ingrid reduza seu poder de negociação", afirma Samper. "A própria Ingrid já se deu conta - segundo relatos de ex-reféns que estiveram com ela no cativeiro - de que quanto mais seu caso ganhar importância, menor será a probabilidade de que ela seja libertada." Ainda ontem, o avião enviado pela França à Colômbia com uma missão médica e diplomática para libertar Ingrid voltou para casa. Em Brasília, o ministro de Defesa brasileiro, Nelson Jobim, disse que os rebeldes das Farc serão recebidos "a bala" se tentarem cruzar as fronteiras do País na região amazônica.