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Brasil e emergentes querem que ONU condene sanções unilaterais ao Irã

Jogo diplomático. Chanceler brasileiro afirma que ideia de proteger Teerã partiu da Rússia, que tem boa relação com os iranianos; até o momento, apenas EUA e União Europeia aprovaram punições mais duras do que as ações autorizadas pelas Nações Unidas

Por Gustavo Chacra CORRESPONDENTE , NOVA YORK e NOVA YORK
Atualização:

O chanceler brasileiro Celso Amorim disse ontem, em Nova York, que o Brasil apoia uma iniciativa de Rússia, Índia e China para extrair das Nações Unidas uma condenação a qualquer sanção unilateral ao Irã. Amorim salientou, entretanto, que a ideia de proteger os iranianos de medidas que não sejam as aprovadas pela ONU - prática dos EUA e da Europa - não partiu do Brasil. A agência de notícias Reuters publicou na terça-feira à noite uma entrevista com Amorim, na qual o chanceler afirmou que os Brics - Brasil, Rússia, Índia e China -, em reunião naquela manhã, haviam decidido propor à Assembleia-Geral da ONU um projeto de resolução proibindo sanções unilaterais contra países cujos casos estão sendo discutidos no Conselho de Segurança. A proposta teria o objetivo de deslegitimar as penalidades aplicadas individualmente por EUA e Europa contra o Irã no futuro. Amorim creditou o plano de condenação à Rússia, com quem os iranianos têm estreitas relações comerciais. "Começamos a ter alguma coordenação sobre resoluções da Assembleia-Geral. Em alguns casos, estamos até mesmo contra sanções multilaterais", afirmou Amorim à Reuters.Ontem, o discurso do chanceler ganhou tons mais suaves. "Esta resolução vai levar um mês ou dois meses sendo discutida. Os termos exatos eu não posso dizer. As sanções unilaterais, em geral, e no Conselho não nos agradam. Mas não estamos tomando nenhuma iniciativa."Depois de dizer que as relações com os EUA não ficariam comprometidas pelo apoio a uma iniciativa contrária aos interesses americanos, Amorim disse a questão não poderia ferir a soberania americana. "Eles (os que aplicam as punições) é que estão ferindo a soberania dos outros. Se nós queremos vender frango ao Irã, que é uma coisa absolutamente normal e serve para a alimentação das pessoas, encontramos dificuldades por causa das transações bancárias. Isso é uma coisa que não é correta", afirmou. Questionado sobre o veto das potências à participação do Brasil e da Turquia nas negociações com o Irã, o chanceler Celso Amorim retrucou: "Nós nunca pedimos para mediar nada."A nova iniciativa foi captada como uma nova investida do Brasil e seus aliados no Bric contra medidas adicionais que a Casa Branca venha a adotar contra interesses iranianos. Rússia e China, embora tenham dado seu aval no Conselho de Segurança às sanções adotadas contra o Irã, em junho, resistiram o quanto puderam à pressão americana. Moscou, particularmente, teme que novas medidas unilaterais dos EUA venham a prejudicar negócios em andamento com Teerã. Por causa das ameaças de retaliações, a Rússia foi obrigada a recuar em seu contrato de venda de mísseis ao Irã (mais informações nesta página).Um julho, o presidente americano, Barack Obama, assinou uma lei que impôs sanções ao setor energético iraniano. Antes mesmo disso, as companhias americanas já estavam proibidas de negociar ou investir no Irã. A legislação dos EUA também obriga os bancos estrangeiros a decidir se preferem investir nos EUA ou no Irã. As sanções americanas contra o regime iraniano tiveram início em 1979, depois da invasão da Embaixada Americana em Teerã. Na época, Washington proibiu a venda de insumos para a indústria aeronáutica iraniana.PARA ENTENDERAs resoluções aprovadas pela Assembleia-Geral da ONU têm apenas caráter de recomendação. Conforme afirmou o próprio chanceler brasileiro, Celso Amorim, elas não possuem o mesmo peso das decisões tomadas pelo Conselho de Segurança. Dessa forma, a iniciativa de Brasil, Índia, Rússia e China não precisaria ser adotada por nenhum dos países-membros das Nações Unidas. Ao mesmo tempo, esse seria um sinal de que brasileiros e russos, principalmente, estariam insatisfeitos com as medidas unilaterais aprovadas pelo Congresso dos Estados Unidos e pela União Europeia, que afetam diretamente os negócios de empresas de seus países.

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