Brasil e EUA não avançam em acordo sobre Alca

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Por Agencia Estado
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O Brasil e os Estados Unidos não avançaram num acordo para antecipar a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) no encontro desta sexta-feira entre os presidentes Fernando Henrique Cardoso e George W. Bush, na Casa Branca. Durante uma hora de conversa, os dois falaram não só sobre questão da Alca e de assuntos bilaterais, mas também sobre problemas da América Latina. Segundo Fernando Henrique, Bush demonstrou preocupação com a situação da guerrilha e do narcotráfico na Colômbia e também disse estar disposto, se necessário, a ajudar a Argentina a superar a crise econômica. A grande expectativa era de que houvesse alguma negociação para a mudança do cronograma de criação da Alca, que estabelece 2005 como data da criação. "Essa questão de data não foi nem colocada, até porque não cabia a mim discutir", afirmou Fernando Henrique, assim que acabou o encontro com Bush, às 15 horas. Sobre este tema, Fernando Henrique insistiu: "Se houver uma solução boa e condições concretas de avançarmos, avançaremos". Segundo a definição do presidente brasileiro, foi uma conversa ampla em que o ponto principal foi a continuidade de um relacionamento positivo entre o Brasil e os Estados Unidos. Segundo Fernando Henrique, o encontro também serviu para evitar que cada questão específica de comércio entre os dois países se transforme num problema global. "O encontro superou as minhas expectativas", disse Fernando Henrique, que convidou Bush a conhecer o Brasil. Ele classificou a conversa como positiva e franca e explicou porque resolveu tirar os óculos para Bush, numa referência à frase do presidente americano de que olharia nos olhos de Fernando Henrique para tratar sobre a Alca. "O gesto de brincadeira que eu fiz de tirar os óculos, repeti nas frentes das câmaras", contou ele, bem-humorado. "Foi uma demonstração clara de que estamos numa relação aberta." Fernando Henrique ressaltou que o Brasil e os Estados Unidos não tem nenhum problema agudo no relacionamento bilateral. Na conversa, falou-se também de forma genérica sobre a necessidade de crescentes investimentos nos dois países. Na conversa, a crise econômica na Argentina foi abordada pelos dois presidentes. Bush demonstrou interesse em ajudar a Argentina a solucionar a crise. "Notei que os Estados Unidos têm disposição de, sendo necessário, apoiar a Argentina", disse Fernando Henrique. "Eu insisti em que a recuperação econômica da Argentina é fundamental para o hemisfério e é fundamental para nós brasileiros." Fernando Henrique disse que expressou sua confiança no ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo. "Bush concorda com isso", afirmou. Segundo o presidente brasileiro, Bush disse que a posição americana em relação à Argentina é cautelosa e que, sendo necessário, ajudará. "Mas não se vê necessidade agora", disse. "Estamos todos muito otimistas quanto à possibilidade de a Argentina resolver os seus impasses." Pelo relato de Fernando Henrique, Bush demonstrou preocupação com a situação da Colômbia e perguntou se havia a possibilidade de que um grupo de guerrilheiros ou de narcotraficantes daquele País ultrapassasse a fronteira do Brasil. "Eu disse que não tinha essa preocupação porque nunca cruzaram a fronteira, e também, se cruzarem, vão receber o tratamento que merecem", respondeu o presidente brasileiro. Fernando Henrique lembrou ainda para Bush que a área onde se localiza a guerrilha e a produção da cocaína na Colômbia está a mil quilômetros da fronteira do Brasil. "Disse que acho necessário buscar caminhos de pacificação da Colômbia", relatou Fernando Henrique. Ele contou a Bush que, quando o presidente colombiano, Andres Pastrana, visitou guerrilheiros no interior do País, ele tomou a iniciativa de ligar para ele. "Conversei com ele pelo telefone para dar um sinal de como o Brasil acompanha a questão", explicou. Fernando Henrique reiterou na conversa a preocupação do Brasil com as fronteiras e disse que estava tomando cuidado com este assunto. Ele disse a Bush que as Forças Armadas brasileiras estão na área e que o programa para o monitoramento do espaço aéreo, o Sivam, estava em andamento. Outro tema posto por Bush na reunião foi a preocupação com a crise energética dos Estados Unidos. "Nós mostramos também os nossos problemas de energia; falei bastante de Itaipu e disse que valia a pena ele ver diretamente as realizações", contou Fernando Henrique.

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