Brasil e Índia não disputam mesma vaga na ONU, diz Amorim

Para o chanceler, reforma que não inclua um país latino-americano é impensável

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MAPUTO - Repetindo o discurso conciliador adotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira em relação à defesa do presidente americano, Barack Obama, da entrada da Índia como membro permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que isso demonstra a abertura de um canal para uma importante discussão de ampliação do organismo internacional.

 

 

Para Amorim, "Brasil e Índia não disputam a mesma vaga" e "não passa pela cabeça de ninguém que em uma reforma do conselho entrem dois países asiáticos e nenhum da África ou América Latina".

 

Segundo Amorim, as declarações de Obama defendendo a Índia foram dadas quando ele fazia uma visita ao parlamento daquele país. "Mas elas afetam positivamente o Brasil, porque mostra que o presidente Obama está com a cabeça aberta para uma reforma da ONU, que inclua os países em desenvolvimento e, falando em reforma, obviamente, não se pode desconhecer o Brasil e os países africanos", afirmou o ministro, que acompanha o presidente na viagem a Moçambique.

 

Amorim lembrou que o Brasil tem o apoio da França e do Reino Unido para obter um assento com a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Ele reconhece o peso dos EUA no processo, pela importância do país e considera que a mudança não "será difícil". "Vamos ter de continuar a batalhar e convencer os outros a votar no Brasil", comentou, insistindo que o que é importante, neste momento, é o aceno americano. "Nunca um presidente americano aceitou um país em desenvolvimento no conselho. É uma boa abertura", acrescentou o chanceler.

 

Amorim negou que as relações entre os EUA e o Brasil tenham "esfriado". Segundo ele, a visita de Obama ao Brasil "vai acontecer em breve" e "em algum momento" e lembrou que o presidente americano não esteve em nenhum local da America Latina.

 

Sobre a reunião do G-20, que será realizada neste semana, em Seul, o ministro Amorim defendeu a necessidade de os países discutirem conjuntamente uma solução. "Não queremos dar conselhos aos EUA, mas quando se reforçam instrumentos multilaterais de ação como o G-20 é natural que isso seja objeto de discussão", declarou Amorim, acrescentando que é preciso ter uma coordenação.Segundo o chanceler, quando se defende uma economia globalizada, um mercado aberto, com capital e comércio correndo livremente, "não se pode tratar a política monetária separadamente". E, neste caso, ressaltou, não dá para dizer que o que é bom para os EUA seja bom para todos. "Se os EUA crescerem é certo que é bom para todos os países no mundo. Mas depende como será este crescimento e se vai haver ou não guerra fiscal", disse. Para Amorim, o perigo é a política monetária que será adotada porque, "se ela for muito forte, muito liberal, vai levar a uma desvalorização muito grande da sua moeda, o que é ruim".

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