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Brasil estuda financiar exportações para Teerã

País quer criar linha de financiamento via BNDES para reverter queda do comércio causada por sanções a Irã

Por Denise Chrispim Marin e Jamil Chade
Atualização:

O Brasil e o Irã pretendem montar um mecanismo de financiamento direto do comércio bilateral, para reverter a queda de 38,3% nas exportações brasileiras para esse país em 2008. O objetivo é vencer a resistência dos bancos em dar crédito para exportadores, motivada pelas sanções do Conselho de Segurança da ONU contra o Irã. A proposta será analisada na primeira visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil, no dia 6. Cercada de cuidados pelo Itamaraty - especialmente depois que Ahmadinejad afirmou, na Conferência da ONU sobre Racismo, na segunda-feira, que Israel é governado por um "regime racista" -, a visita colocará o Brasil numa saia justa. O novo mecanismo de financiamento não poderá ser usado para o comércio de bens e serviços que possam contribuir com o programa nuclear do Irã. Segundo diplomatas, nos últimos dois anos, o Brasil detectou uma "cautela exagerada" dos bancos na concessão de crédito para a exportação de mercadorias e de serviços do País para o Irã - mesmo as vinculadas a projetos de investimento. Essa prudência seria causada por pressões externas ou dúvidas na interpretação das sanções. Em geral, pedidos de financiamento são negados antes mesmo da análise dos produtos e importadores envolvidos. Dos dez principais produtos embarcados pelo Brasil ao Irã em 2008, oito tiveram queda acentuada - óleo de soja, açúcar, milho, bagaço de soja, chassis com motor, soja em grãos, outros tipos de açúcar, aviões. Só dois itens - minério de ferro e carne bovina - apresentaram aumento nas vendas. No primeiro trimestre deste ano, as exportações brasileiras para o Irã somaram US$ 196 milhões - queda de 6,8% em relação a igual período de 2008. O Irã é o quinto maior destino das exportações agrícolas do País. "Temos de corrigir essa situação", afirmou uma fonte diplomática. "Mas também não vamos deixar de tocar em temas sensíveis para os iranianos que nos preocupam", completou, referindo-se ao programa nuclear de Teerã e a sua posição de confrontação com Israel. Em tom cordial, o Irã foi advertido que o Brasil não é o espaço adequado para Ahmadinejad fazer declarações agressivas contra Estados amigos, como Israel. O governo brasileiro quer fazer uma separação entre os aspectos políticos da viagem e as questões comerciais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende visitar o Irã ainda este ano. Foi Lula quem pediu ao Itamaraty que convidasse Ahmadinejad para uma visita oficial ao País. REPÚDIO A Confederação Israelita do Brasil divulgou ontem uma nota de repúdio ao discurso de segunda-feira de Ahmadinejad, na ONU, quando ele chamou Israel de "regime racista". "Ele evidenciou mais uma vez a face de um regime notório pelas ações de desestabilização do Oriente Médio e pela sistemática violação de direitos humanos", diz o texto.

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