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Brasil exportou urânio para o Iraque por mais de 10 anos

Leia também: Iraque pode produzir armas nucleares em três meses, diz cientista. E usando urânio brasileiro.

Por Agencia Estado
Atualização:

O Brasil exportou urânio para o Iraque durante mais de dez anos, de 1979 a 1990. Foram vendidas para Saddam Husssein dezenas de toneladas de yellow cake, o primeiro estágio do beneficiamento do minério, muito distante do material enriquecido, última etapa do processo, que permite alimentar geradores de energia ou bombas e ogivas de mísseis. O volume fornecido, na escala de milhares de quilos, impressiona, mas não é estrategicamente significativo: toneladas de yellow cake resultam em poucos gramas de urânio industrial. O urânio saía das jazidas da extinta Nuclebrás, em Poços de Caldas no sul de Minas, era levado até o Instituto de Estudos Avançados do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) de São José dos Campos, e depois embarcado nos portos de Santos e de São Sebastião. A operação secreta foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo em uma série de reportagens. Em 1981, quando a aviação de Israel bombardeou e destruiu a central nuclear iraquiana de Ozirak, pelo menos 40 técnicos brasileiros haviam deixado aquelas instalações, onde estava sendo construído o primeiro reator do complexo. Vários desses especialistas viriam a assumir posições importantes nos dois programas, o oficial e o paralelo, mantidos pelos dois últimos generais que ocuparam a presidência do Brasil Ernesto Geisel e João Figueiredo. O resultado prático do empreendimento sigiloso foi oficialmente apresentado ao País em fins dos anos 80 pelo presidente José Sarney, um civil: urânio enriquecido com tecnologia própria no Centro Experimental de Aramar, em Iperó, interior de São Paulo. A Argentina e países da África, como a Nigéria e a África do Sul, também forneceram yellow cake para o Iraque na mesma época do acordo de cooperação nesse campo firmado entre os governos de Brasília e Bagdá. O presidente Figueiredo revelou a um oficial gaúcho, que esboça uma biografia do ex-presidente morto em 1999, ter recebido um informe, ainda quando chefiava o desativado Serviço Nacional de Informações (SNI) sobre os objetivos militares do plano de capacitação atômica de Saddam. Emblematicamente, o documento citava uma espécie de mural existente no prédio da estação de controle de Ozirak onde havia uma seqüência gráfica do ciclo nuclear. A penúltima imagem mostrava um míssil decolando. A última era a cena de uma explosão. Leia também: Iraque pode produzir armas nucleares em três meses, diz cientista. E usando urânio brasileiro.

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