Brasil pode sofrer pressões para brecar programa nuclear

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Por Agencia Estado
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A decisão do Irã de desativar todas suas instalações de enriquecimento de urânio, anunciada ontem, em cumprimento a compromissos assumidos com França, Alemanha e Inglaterra, poderá aumentar a pressão para que o Brasil chegue rapidamente a um acordo com a Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA) sobre os métodos de inspeção da planta de enriquecimento de Resende, que ainda não entrou em operação. Uma demora na obtenção de tal acordo poderia forçar o Brasil a seguir o exemplo do Irã e desistir de seu programa de enriquecimento, como propõe um artigo de quatro especialistas republicanos e democratas publicado na última edição de "Survival", revista trimestral do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres. A rádio oficial em Teerã informou ontem que o objetivo da suspensão de todas as atividades de enriquecimento foi "construir confiança". O acordo com os europeus prevê que os três países desenvolverão num programa de cooperação econômica, tecnológica, nuclear e de segurança com o Irã. O governo islâmico apresentou o acordo como um reconhecimento por Paris, Berlim e Londres do direito de Teerã de levar adiante um programa nuclear para fins pacíficos. "A continuação da suspensão dependerá de o outro lado cumprir suas promessas", afirmou Adbollah Ramezanzadeh, o porta-voz do governo iraniano. Ele acrescentou que "o primeiro teste" será a reunião dos países membros da AIEA, que discutirá o assunto a partir de quinta-feira, na sede da organização, em Viena. O diretor-geral da AIEA, Mohamed el-Baradei confirmou o anúncio de Teerã. "Creio que praticamente tudo foi paralisado", disse ele, indicando que a suspensão abrangeu também as atividades de conversão de "yellow cake" em hexafluoreto de urânio, o gás que a partir do qual se produz combustível nuclear por centrifugação. Na semana passada, diplomatas europeus criticaram o Irã por ter acelerado a conversão, antes da cessação das atividades de enriquecimento, acertada no acordo com Paris, Londres e Berlim. El Baradei estimou em duas toneladas a quantidade de "yellow cake" que o Irã converteu em gás, de um total de 22 toneladas em poder do país. Um especialista disse que o hexafluoreto obtido por Teerã poderia ser convertido em algo como um quarto das 50 libras de urânio altamente enriquecido, necessárias para a fabricação de uma pequena bomba nuclear.

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